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Editorial

Juízes exaustos

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Juízes exaustos

Os que acompanham os meus trabalhos são testemunhas do constante reconhecimento da sobrecarga de trabalho dos magistrados brasileiros, em especial os que atuam na Justiça do Trabalho. Da mesma forma, reconheço o trabalho exaustivo dos demais serventuários do Poder Judiciário.

Os dados publicados por reportagem recente indicam que a maioria dos juízes trabalha 9 horas por dia; 70% preparam sentenças nos fins de semana e 64% estudam processos durante os 60 dias de férias que são assegurados por lei para a categoria.

A rotina da maioria dos juízes é realmente estonteante. Cerca de 45% vão dormir depois da meia-noite e muitos se levantam antes da cinco horas para dar conta do serviço. E, mesmo assim, estão sempre com o trabalho atrasado, com raras exceções.

O excesso tem causado depressão, insônia e outras doenças ocupacionais (até suicídio), o que tem levado os magistrados a recorrer a constantes licenças médicas para poder se tratar. Alega-se que a introdução da informática passou a exigir ritmo mais acelerado e difícil de ser cumprido em jornada normal de trabalho.

Segundo a reportagem, as associações de juízes condenam as metas de produtividade determinadas pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) por elas consideradas como excessivas, desumanas e prejudiciais à saúde dos magistrados.

O problema é sério, pois o exercício do Poder Judiciário requer estudo, meditação, ponderação, serenidade e isenção, que só podem ser assegurados por condições adequadas de trabalho e com o necessário tempo para chegar à solução justa que cada caso merece. É problema que exige solução imediata.

Entretanto, é duvidoso que o mero afrouxamento das metas de produtividade do Conselho Nacional de Justiça venha resolver o impasse. Afinal, em todas as atividades humanas, a produtividade é perseguida com afinco assim como se busca a melhoria da qualidade dos serviços em todas as áreas.

Empresas, escolas, hospitais, que desprezam a produtividade e o bom atendimento de consumidores e clientes, perdem mercado, e os trabalhadores perdem empregos. O mesmo pode ser dito em relação à informática, ferramenta de alta eficiência que se integrou em definitivo à produção moderna.

A pressão da produtividade, da informática e das tecnologias em geral afeta praticamente os profissionais nos dias atuais. Iludiram-se os que pensavam que, com mais tecnologia, os seres humanos trabalhariam menos. Ou seja, os problemas apontados afetam todas as categorias, muitas das quais trabalham em regime de revezamento, dia e noite.

Em face disso, o que fazer? O presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, José Renato Nalini, tem sido uma voz corajosa ao propor medidas objetivas nesse campo. Para ele, é impossível evitar a sobrecarga de trabalho com quase 100 milhões de processos que tramitam no Poder Judiciário do Brasil.

E dá a sua sugestão: a litigiosidade precisa baixar. Chegou a hora de o Brasil adotar e, sobretudo, dar condições de trabalho para a implantação e operação de métodos alternativos de resolver conflitos como é o caso da autocomposição, conciliação, mediação e da arbitragem.

Concordo com o presidente Nalini. Soluções desse tipo são muito mais adequadas e realistas do que reduzir as metas de produtividade ou eliminar a informática do Poder Judiciário.

José Pastore é presidente do Conselho de Relações do Trabalho da FecomercioSP.
Artigo publicado no jornal Correio Braziliense em 16/10/2014, na página 21.

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