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Economia

Capital paulista passa por desindustrialização, mas sem perder a relevância econômica

Crise hídrica, especulação imobiliária e qualidade de vida estimulam o deslocamento de empresas e pessoas para o interior do estado

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Capital paulista passa por desindustrialização, mas sem perder a relevância econômica

Por Filipe Lopes

Sede das principais indústrias do País no início do século 20, a cidade de São Paulo se transforma cada vez mais em um grande polo financeiro, que abriga escritórios administrativos das grandes companhias, concentra os empregos que pagam mais, atrai empreendimentos imobiliários de alto padrão e afugenta para o interior a população de baixa renda que busca oportunidades de emprego.

Segundo estudo elaborado pela Universidade de Campinas (Unicamp) para a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), entre 2000 e 2010, a migração dentro dos Estados passou de 65% para 72% do fluxo total de deslocamentos dos brasileiros. No mesmo período, a migração para o Sudeste caiu de 1,8 milhão de pessoas para 575 mil. Além de a população se manter mais nas suas regiões de origem, a capital paulista não desperta mais a ilusão de riqueza aos migrantes, que contam com mais opções de emprego e moradia em suas cidades. A taxa de urbanização das cidades paulistas do interior, principalmente as localizadas das rotas de escoamento da produção sucroalcooleira e agrícola ao norte do Estado (que faz divisa com Minas Gerais e Mato Grosso do Sul), cresceu, em média, 76,1% entre 2000 e 2010, segundo último levantamento do Censo, apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para o professor do departamento de Economia da Unicamp, Cláudio Dedecca, essa somatória de fatores não significa necessariamente que a capital paulista perdeu ou perderá força em razão do êxodo urbano. “A capital paulista concentra os escritórios administrativos das grandes empresas, enquanto as cidades interioranas abrigam as indústrias e a mão de obra menos qualificada. A tendência é que a região metropolitana de São Paulo se desindustrialize cada mais vez”, afirma. Segundo Dedecca, isso não enfraquece a economia da cidade. Muito pelo contrário. Há uma seleção de empregos de melhor qualidade e, consequentemente, que remunera melhor. Contudo, um dos impactos dessa concentração financeira é o aumento da desigualdade social, que ergue uma fronteira invisível entre a São Paulo para quem pode pagar e a cidade dos paulistanos que sobrevivem a ela.

Interior pujante
De acordo com a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), a região metropolitana de São Paulo apresentou taxa de migração negativa (-1,6 por mil habitantes) na última década (2000-2010). Essa retração contribuiu para manter a taxa de crescimento populacional do Estado inferior a 1% ao ano, a menor desde a década de 1970. Em contrapartida, a região de Campinas destaca-se como uma das mais importantes do Estado em termos de atração populacional. A taxa de migração da área, entre 2000 e 2010, foi de 6,5 migrantes ao ano por mil habitantes, mais de cinco vezes superior à média estadual (1,2 migrante ao ano por mil habitantes). Campinas, com saldo migratório líquido próximo de 38 mil migrantes ao ano, respondeu por quase 80% do volume de migração do Estado de São Paulo, entre 2000 e 2010.

Essa tendência de migração interiorana não é privilégio de São Paulo. Na medida em que as grandes cidades brasileiras se consolidam cada vez mais como metrópoles de negócios, os municípios do interior do País crescem em proporções nunca alcançadas e podem se tornar os novos motores da economia nacional. Estudo do The Boston Consulting Group (BCG) aponta as famílias de classe média sediadas no interior do País como as principais alavancas para o crescimento de diversas categorias de consumo, representando um mercado de US$ 600 bilhões em 2020 – mais da metade do crescimento do consumo no País até lá.

A crise hídrica que assola o Sudeste e castiga ainda mais a RMSP pode motivar a migração de empresas. “Caso ocorra um racionamento rigoroso, poderemos assistir a um êxodo para o interior e até para outros Estados do País. Parece irônico afirmar que a falta de água seria a ‘gota d’água’ para que muitos cidadãos decidam abandonar a cidade que dá sinais de insustentabilidade”, afirma o presidente do Conselho de Desenvolvimento Local da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Jorge Duarte. A hipótese de racionamento, segundo Duarte, pode ter impacto negativo no comércio, principalmente para quem lida com produtos de menor necessidade. 

Além da crise hídrica, o paulistano anda insatisfeito com os problemas decorrentes do crescimento desordenado da metrópole, especialmente aspectos relacionados à mobilidade urbana, transporte público, violência e custo de vida. “Não se pode afirmar que o êxodo pode ser estimulado apenas pela falta de água. Há o problema da sensação de insegurança, enchentes, poluição, trânsito carregado, mobilidade limitada, ocupação desordenada e falta de um projeto de desenvolvimento sustentável claro, de curto, médio e longos prazos. Esses problemas estão na mente do paulistano que não vê perspectivas de melhora”, afirma Duarte. Enquanto nenhum projeto dos governos municipal e estadual amenizar, de fato, a insatisfação do paulistano com a qualidade de vida, a tendência é que muita gente – e muitas empresas – opte pelo interior. 

A matéria completa está disponível aqui

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