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Editorial

Conjuntura do emprego em 2015

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Conjuntura do emprego em 2015

O quadro do emprego continua se complicando. No primeiro trimestre de 2015, foram fechados mais de 50 mil postos de trabalho no Brasil, lembrando que em 2014, no mesmo período, foram criados 344 mil. Ao contrário do registrado em anos anteriores, o comércio passou a ter desempenho muito fraco. Em março último, o setor criou apenas 2.600 postos de trabalho. No trimestre, apresentou saldo negativo. Os serviços ainda salvaram desastre maior ao gerarem cerca de 53 mil vagas, em grande parte impulsionados pelo ramo de ensino.

A construção civil tornou-se destruidora de empregos com o fechamento de mais de 18 mil postos em março de 2015. A indústria é o setor mais crítico. Em 2014, só em São Paulo, as indústrias dispensaram 165 mil profissionais. O esfriamento do mercado demorou a chegar, mas chegou e avança de modo rápido, mostrando efeitos na remuneração. O rendimento médio apresentou forte recuo de 2,8% em março de 2015 quando comparado com o mês anterior (fevereiro) — a maior queda do salário real desde 2004.

Isso tudo abala o ânimo do consumidor, que começou a reduzir as compras. O desânimo é atribuído ao medo do desemprego e à queda do salário real devido à inflação crescente (acima de 8%). A Confederação Nacional do Comércio projeta crescimento zero para o comércio e os serviços em 2015. Parcela expressiva dos empresários desses setores (51%) revela a intenção de eliminar empregos.

Os primeiros sinais começaram a aparecer. No trimestre encerrado em fevereiro de 2015, a taxa de desocupação calculada pela Pnad-Contínua subiu para 7,4%, acima dos 6,5% do último trimestre de 2014. Na Pesquisa Mensal de Emprego (PME), o desemprego nas regiões metropolitanas passou de 5,9% (fevereiro) para 6,2% (março). Lembremos que, em março de 2014, a taxa foi de 5%.

Na indústria automotiva, a crise se aprofunda. Em abril, as vendas de veículos tiveram retração de 26% na comparação anual. Com enormes estoques acumulados, as empresas prosseguiram no movimento de férias coletivas, lay-offs, PDVs e demissões. Só em 2015, as montadoras demitiram cerca de 4 mil empregados, que se somaram aos 13 mil dispensados em 2014. O setor de autopeças dispensou 25 mil no ano passado e prevê corte adicional de 17 mil para 2015. Só em fevereiro de 2015, foram quase 2 mil demitidos. E o quadro não mostra sinais de melhoria.

Complicador importante é a crise da Petrobras, que vem se alastrando para fornecedores e prestadores de serviços. Só os estaleiros demitiram 10 mil pessoas no primeiro trimestre de 2015, com a possibilidade de chegarem a 40 mil até o fim deste semestre. Segundo estimativas da Advocacia Geral da União, a falta de pagamento por parte da Petrobras afeta 51 mil empresas, com riscos de corte de mão e obra.

Quando a economia se desacelera e as demissões aumentam, os desentendimentos também se propagam. Por exemplo, o número de processos de dissídios coletivos no Tribunal Regional do Trabalho da 2a Região (São Paulo) aumentou 23% em 2014: foram 220 ações ante 179 em 2013. Do total, 133 (60%) foram motivadas por greve.

A continuar na marcha de redução de empregos e de remuneração, é provável a elevação da taxa de desemprego no fim de 2015 para o patamar de 9% na Pnac-Contínua e de 8% na PME. Se alguns atribuem a desaceleração ao Programa de Ajuste Fiscal, igualmente verdadeiro é considerar que os problemas que afetam a economia em 2015 foram criados por conduta inadequada do governo federal nos anos anteriores. Oxalá os acertos a serem feitos neste ano redundem em mais emprego e melhor remuneração em 2016 e 2017.

José Pastore é presidente do Conselho das Relações do Trabalho da FecomercioSP.
Artigo publicado no jornal Correio Braziliense em 28/5/2015, página 15.

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