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Editorial

Crise na economia brasileira pode causar problemas ao orçamento familiar

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Crise na economia brasileira pode causar problemas ao orçamento familiar

A redução da meta do superavit fiscal de 1,1% para 0,15% do PIB é preocupante, apesar de justificável, pois evidencia as dificuldades do governo em implementar o ajuste fiscal inicialmente previsto e, assim, agrava o quadro de apreensão crescente dos agentes econômicos.

A tentativa de realinhar os números à realidade e ganhar credibilidade junto ao mercado parece provocar o resultado inverso quando se observa que a iniciativa corresponderá a uma economia de somente R$ 9 bilhões, 13% dos R$ 66 bilhões propostos no início do ano.

Na última semana de julho o Banco Central elevou, mais uma vez, a taxa básica de juros, com o objetivo de controlar a inflação. Que dizer, é uma nova evidência da dificuldade do governo na gestão da economia e preocupação para o mercado, pois a ação implica aumento de despesa com a dívida pública, o que exigirá resultado primário ainda maior para fazer frente à necessidade.

Com a taxa Selic cada vez mais alta, maior será o esforço fiscal necessário para estabilizar a trajetória da dívida pública. Equação de difícil resolução, quase um enigma.

A escalada inflacionária, por sua vez, irá reduzir, ao longo de 2015, o poder de compra das famílias brasileiras em R$ 120 bilhões, quase duas vezes o esforço fiscal inicialmente imaginado, segundo recente estudo da FecomercioSP, mostrando que inflação de 9%, no ano, ante meta central de inflação de 4,5%, reduz substancialmente o poder de compra familiar.

Para estimar o tamanho da perda, a FecomercioSP fez simulações com base em uma inflação média mensal linear e no consumo estimado para o final deste ano. A conclusão é a de que, por causa do diferencial de inflação acima do centro da meta (4,5 pontos percentuais), as perdas adicionais de poder de compra das famílias chegam a quase R$ 60 bilhões.

A entidade estima que a compra familiar em 2014 foi de quase R$ 2,7 trilhões, em valores de 31 de dezembro. Como a meta de inflação é de 4,5%, a perda gradativa do poder de compra ao longo do ano, quase chegou aos R$ 63 bilhões.

Esses valores poderiam ser repostos? Dificilmente, ante a queda da renda real verificada no período. Mas, ainda que fossem, por reajustes salariais, o efeito inflacionário se daria, entre um reajuste e outro. Quando a inflação acelera, a corrosão salarial também se intensifica.

Essa perda adicional vai atingir em cheio o bolso do consumidor e, com maior intensidade, o das classes C, D e E, que tem maior propensão ao consumo. As famílias mais ricas são poupadoras e, em parte, recuperam as perdas mediante aplicações financeiras, que estão pagando juros cada vez mais altos.

Para as famílias de menor renda, por outro lado, a perda é duplicada, dentro de uma lógica perversa, pois, em geral, não detêm poupança e precisam mais de crédito.

Assim, além da perda do poder de compra, o aumento dos preços vai forçar essas famílias a tomarem mais crédito, a uma taxa de juros mais elevada, reduzindo ainda mais a renda disponível.

A saída para a situação em que se encontra a política econômica atual é, para os empresários do comércio, a retomada de uma agenda de reformas estruturais que considerem a redução da burocracia e do tamanho do Estado. Manter hipertrofiada a máquina pública, não ajuda na retomada da confiança dos agentes econômicos.

Medidas claras de redução dos gastos públicos, dos 24 mil cargos comissionados e dos 38 ministérios, seriam bons indicadores para recuperar credibilidade. Além de ajudar o governo a recuperar a credibilidade, seriam antídotos eficazes para auxiliar na manutenção do grau de investimento e na recuperação da desgarrada economia nacional.

Abram Szajman é presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
Artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo em 04/08/2015, página A03.

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