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Editorial

Desemprego pode interferir na estabilidade das instituições, diz Pastore

Fatores que interferiram para o quadro de desemprego em 2015 estão presentes em 2016, o que indica que haverá novas quedas no emprego do comércio e dos serviços

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Desemprego pode interferir na estabilidade das instituições, diz Pastore

Setor de serviços foi um dos que apresentaram alta no desemprego
(PixAbay)

Durante as últimas décadas, o setor de comércio e serviços funcionou como verdadeira locomotiva quando foi responsável pela geração de 85% dos novos empregos. Em 2015, o setor não só deixou de criar como destruiu 500 mil postos de trabalho. Por que isso preocupa? O setor de comércio e serviços sempre funcionou como válvula de escape. Os trabalhadores expulsos da agricultura, indústria e construção civil eram acomodados nesse setor ao abrirem um barzinho ou uma pequena barbearia ou fazendo serviços pessoais e domiciliares de costura, manicure, pintura, hidráulica etc.

Comércio e serviços congregam mais de 70% da força de trabalho (muitas mulheres chefes de família) e responde por mais de 70% do PIB. É setor intensivo em mão de obra de todos os níveis e que responde pela maior parte da renda das famílias. A maioria dos empregos se concentra nas micro, pequenas e médias empresas. Num momento em que esse setor encolhe de maneira tão abrupta, fica a pergunta: para onde vão os novos desempregados? Uma parte dos desempregados enfrenta as despesas familiares com os recursos das rescisões contratuais. Mas eles têm pouco fôlego e acabam, logo, gerando danos sociais nas famílias.

Outra parte busca ganhar a vida como trabalhadores por conta própria. Só em 2015, eles aumentaram 4,5% — quase 1 milhão de pessoas. Mas a maioria cai no trabalho precário porque dos 22 milhões pessoas que trabalham nessa condição, apenas 5 milhões têm as proteções sociais parciais do Programa do Microempreendedor Individual (MEI) — aliás, um grande sucesso. Só em 2015, a informalidade aumentou em média 5%. Na agricultura e no comércio e serviços, a sua incidência foi espantosa.

Ou seja, o esfriamento do emprego no comércio e serviços está criando para milhões de famílias um beco sem saída. Trata-se de uma deterioração bastante grave e decorrente do desempenho desastroso daquele setor. Em 2015 foram fechadas 100 mil lojas no Brasil. As vendas despencaram, em média, 4,3% — a maior queda na série histórica iniciada pelo IBGE em 2001. Há segmentos em que a redução foi muito maior. No caso de móveis e eletrodomésticos, a queda foi de 14%; em tecidos, calçados e vestuário, 8,7%; combustíveis e lubrificantes, 6,2%; e até os supermercados amargaram redução de 2,5% nas vendas.

No chamado comércio varejista ampliado (que inclui veículos e construção civil) as quedas foram mais fortes, a saber, veículos em geral, 17,8%, e materiais de construção, 8,4%. O faturamento dos serviços também caiu 3,6% em média. Os serviços profissionais e administrativos encolheram 8,8%, a prestação de serviços às famílias, 7%, transporte e correios, 6,7%, e transporte aéreo, 4,5%.

A contração das atividades no setor de comércio e serviços afetou a vida das pessoas de alta e baixa qualificação. A suspensão e redução de investimentos nas áreas de infraestrutura e de comunicações contribuíram para reduzir a demanda por engenheiros outros técnicos. A desterceirzação dos serviços de limpeza, segurança, manutenção de imóveis etc. afetou os trabalhadores menos qualificados.

Os fatores de contração da atividade econômica que geraram o quadro em 2015 estão presentes em 2016 e tudo indica que as quedas no emprego do comércio e dos serviços vão se aprofundar. Em janeiro de 2016, a queda nos serviços foi de 5% e no comércio 9% em relação a janeiro de 2015. A situação é apreensiva porque os brasileiros estão ficando sem saída. Com a redução do emprego na indústria, construção civil e agora no comércio e serviços as pessoas não têm para onde ir. Sem emprego, sem perspectiva e sem renda, isso pode detonar movimentos sociais de importante gravidade, com reflexos na estabilidade das instituições democráticas. O Brasil precisa dar uma virada e voltar a crescer. Para isso, impõe-se o ressurgimento da confiança.

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