Notamos que você possui
um ad-blocker ativo!

Para acessar todo o conteúdo dessa página (imagens, infográficos, tabelas), por favor, sugerimos que desabilite o recurso.

Editorial

Reforma trabalhista da Espanha não vale como sugestão para o Brasil

Dualismo difere entre os mercados de trabalho dos países e, portanto, a solução não pode ser a mesma

Ajustar texto A+A-

Reforma trabalhista da Espanha não vale como sugestão para o Brasil

Só o tempo dirá se a reforma dará certo, pois isso depende, sobretudo, do compliance das empresas
(Arte: TUTU)

Por José Pastore*

Apesar de ter sido negociada por grupos de empresários, trabalhadores e governo, a reforma trabalhista da Espanha dividiu o país ao meio, pois foi aprovada pelo Parlamento por apenas um voto de diferença.

Um projeto foi inicialmente apresentado ao Resilience and Recovery Fund do programa NextGen-EU, em 2021, que destinou 160 bilhões de euros à Espanha. Depois do Brexit, a Comissão Europeia passou a temer que os problemas sociais do país e o movimento separatista da Catalunha viessem a desestabilizar a União Europeia.

Saiba mais sobre a reforma trabalhista no Brasil
Após quatro anos, a reforma trabalhista foi positiva para o país?
Reforma Trabalhista: mais dinamismo e segurança jurídica para empresas e trabalhadores
Defesa da Reforma Trabalhista no STF é fundamental para evitar destruição da lei

As principais mudanças da reforma são:

1) as empresas que vêm utilizando trabalho por obra, tarefa, dia, hora, etc. terão de passar quase todos os empregados para contratos de prazo indeterminado, pois o trabalho temporário foi muito limitado; 2) as convenções coletivas de trabalho, realizadas por categorias profissionais, passam a prevalecer sobre os acordos coletivos acertados no nível das empresas; e 3) estas terão maior responsabilidade no campo da aprendizagem em todas as formas de contratação.

Quais eram os problemas? Cerca de 26% dos espanhóis trabalhavam sob contratos precários e desprotegidos – havia um grande dualismo no mercado de trabalho. Os acordos coletivos permitiam acertos precários no nível das empresas, fugindo ao controle dos sindicatos. E, dentro dessa precariedade, pouco se investia em treinamento, com riscos de erosão do capital humano da Espanha.

Vai dar certo? Só o tempo dirá, pois isso depende, sobretudo, do compliance das empresas. É uma tentativa de provocar mudanças estruturais e acabar com o dualismo no mercado de trabalho por lei. O sucesso vai decorrer, também, da pujança da economia espanhola e do ritmo de substituição de mão de obra por novas tecnologias.

É pouco provável que tudo isso possa ser conseguido pela força da nova lei, o que significa dizer que, num primeiro estágio, ceteris paribus, o desemprego deve aumentar.

A reforma espanhola vale como sugestão para o Brasil? Penso que não. Entre nós, os contratos de trabalho temporário, intermitente, remoto, parcial, autônomo, etc. têm todas as proteções da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e/ou da Previdência Social. O nosso dualismo está nos 40% de informalidade e no já crônico fraco crescimento da economia brasileira, que, infelizmente, não se resolvem por lei.

Saiba mais sobre o Conselho de Emprego e Relações do Trabalho

*José Pastore é Presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da FecomercioSP.
Artigo originalmente publicado no jornal O Estado de S.Paulo em 24 de fevereiro de 2022.

Inscreva-se para receber a newsletter e conteúdos relacionados

* Veja como nós tratamos os seus dados pessoais em nosso Aviso Externo de Privacidade.
Fechar (X)