Editorial
15/01/2014A economia criativa e o novo ciclo econômico

O economista norte-americano Joseph Stiglitz, ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 2001 pela teoria sobre a assimetria de informações em transações, publicou um artigo
na Vanity Fair sobre a recente crise financeira, que teve como origem o excesso de recursos depositados no crescimento do mercado imobiliário norte-americano.
Stiglitz, crítico da gestão liberal da globalização, do Banco Mundial — de cuja diretoria foi membro — e do Fundo Monetário Internacional, traça um paralelo entre as raízes da Grande Depressão e o movimento lento de recuperação da economia norte-americana, passados cinco anos desde a quebra do Banco Lehman Brothers.
A tese coloca holofotes na queda de empregos na agricultura norte-americana e na consequente redução dos rendimentos no campo na década de 30, promovida pelo aumento de produtividade decorrente de inovações. O endividamento das famílias para manter o padrão de consumo não pôde ser sustentado com a queda dos rendimentos e como crash da Bolsa. Os bancos tiveram que ser resgatados para evitar um prejuízo maior.
Não é só o alto custo que exporta empregos para países de mão-de-obra barata. Esses migram também para países que contam com melhor uso da tecnologia
Algo semelhante teria acontecido na recente crise. Para manter o padrão de consumo, as famílias se endividaram por meio de hipotecas. Como estouro da bolha imobiliária, o desemprego explodiu e os bancos foram novamente resgatados para se evitar um mal ainda pior.
Tanto na Grande Depressão como em outras ocasiões, a perda de empregos ocorreu pela melhora da eficiência. Bruce Greenwald, colega de pesquisa de Stiglitz na Columbia University, também citado no artigo, descarta que o movimento ocorrido na década de 90 tenha sido motivado pela globalização, atribuindo à produtividade.
Mesmo com a recente recuperação da economia norte-americana, ainda é alta a taxa de desemprego e é provável que o socorro bancário realizado recentemente não deverá restabelecer o equilíbrio.
Isso porque duas disfunções precisam ser obrigatoriamente analisadas. A primeira é o papel dos bancos, que preferem se dedicar a engenharias financeiras e ao mercado de derivativos, ou ainda investir em dívida pública a financiar segmentos da economia que mais geram emprego, que são as micro e pequenas empresas. A segunda diz respeito à habilidade de governos ao redor do mundo em investir corretamente para gerar o tipo de emprego que alavanque novos e promissores segmentos da economia, incluindo, naturalmente, a economia criativa.
Esses investimentos devem focar educação, tecnologia e infraestrutura. No caso norte-americano, como foram setores pouco investidos em anos recentes, investimentos incrementais devem gerar impacto importante na economia. O foco em novas fontes de energia e a capacidade do governo de gerar receitas adicionais via impostos é provavelmente um bom caminho para os Estados Unidos.
Vale lembrar que não é só o alto custo que exporta empregos para países de mão-de-obra barata. Esses migram também para países que contam com melhor infraestrutura, educação e uso da tecnologia.
No caso brasileiro, portanto, o desafio é articular de maneira democrática as forças da sociedade para um amplo debate sobre os caminhos do desenvolvimento. O gap de investimentos em educação, tecnologia e infraestrutura é imenso e não permite que as decisões sejam tomadas de forma centralizada e com foco no curtíssimo prazo, como tem sido, aliás, a gestão da nossa economia nos anos recentes.
Adolfo Menezes Melito é presidente do Conselho de Criatividade e Inovação da FecomercioSP.
Artigo publicado o jornal Brasil Econômico em 15/01/14, pág. 27.
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