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Editorial

A incerteza monetária americana contrasta com o cenário estável no Brasil

Especialista faz um comparativo entre a economia brasileira e americana

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A incerteza monetária americana contrasta com o cenário estável no Brasil
Os comunicados da autoridade monetária norte-americana não têm sido muito claros (Arte: TUTU)

Por André Sacconato*

O novo dilema entre economistas é prever quando o FED (o Banco Central dos Estados Unidos) vai baixar os juros. Antes da última reunião da instituição, as apostas eram que isso aconteceria em março, mas os comunicados e as entrevistas recentes do presidente do banco, Jerome Powell, praticamente descartaram essa possibilidade. Desde então, o mercado considera que a primeira redução será em maio ou, no máximo, em junho.

Mas um dado bagunçou ainda mais as expectativas. Em janeiro, os EUA registraram 353 mil vagas de emprego abertas, contrariando a expectativa de que seriam 185 mil novos postos. A taxa de desemprego em torno de 3,7% da força de trabalho é perigosa para o nível inflacionário. Isso já até se refletiu nos salários, que cresceram 0,6% em relação a dezembro, também o dobro das expectativas de mercado. Em relação a janeiro do ano passado, a alta foi bem maior, de 4,5%, pressionando os preços da economia e colocando ainda mais dúvidas sobre o FED.

Em meio a esses indicadores, os comunicados da autoridade monetária norte-americana não têm sido muito claros. As críticas em relação a posição volátil de Powell e de declarações paradoxais dos diretores do banco confundem ainda mais o mercado e, principalmente, o fato do FED ter demorado para aumentar as taxas, insistindo na tese de que os efeitos da inflação eram “temporários”, diminuiu a confiança.

É interesse que o Brasil tenha um cenário oposto. Os comunicados assertivos do Banco Central e as ações rápidas quando a inflação começou a subir trouxeram tranquilidade. A não ser que aconteça algo muito inusitado, já sabemos que, nas duas próximas reuniões do Copom, a queda dos juros básicos será de 0,5 p.p. em cada uma delas – e estaremos com uma taxa Selic na casa dos 10,25% em maio.

Nossa autoridade monetária vem fazendo um bom trabalho. O ciclo de redução é justificado pelo comportamento tranquilo da inflação brasileira e, principalmente, pelas expectativas inflacionárias. Há ainda a ajuda do ambiente externo, que não está pressionando as commodities, assim como do nosso câmbio, que não está transferindo efeitos de choques cambiais para os preços.

Na verdade, a incerteza do País vem no médio prazo. A pergunta dos economistas brasileiros é até quando o Banco Central vai poder baixar os juros. A resposta, por sua vez, depende de como a política fiscal será colocada em prática. Se ela cumprir a meta do arcabouço, permitirá a abertura de mais espaço para quedas acentuadas de juros. Uma política mais expansionista, por sua vez, fará com que o Banco Central (BC) tenha que parar o ciclo em breve. O programa de incentivo à indústria, com dinheiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), lançado pelo governo recentemente, também gera temores: o mercado já viu esse filme em 2014, e as consequências não foram as melhores, como todo mundo sabe.

Os últimos dados do Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) também não vêm aliviando o trabalho do Banco Central: o Índice de Serviços, uma boa proxy da demanda, subiu em janeiro, deixando a política monetária mais sensível à fiscal.

Assim, temos um cenário de seis meses muito possivelmente mais tranquilos por aqui do que nos Estados Unidos. Muito pela competência do nosso Banco Central e pelos erros do FED. No médio e no longo prazo, teremos até a oportunidade de nos estruturar para um grande movimento de investimentos privados. É só o governo abrir mão de gastos adicionais.

*André Sacconato é economista, consultor da FecomercioSP e integrante do CEEP.
Artigo originalmente publicado no Portal Contábeis em 16 de fevereiro de 2024.

Saiba mais sobre o Conselho de Economia Empresarial e Política (CEP).

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