Notamos que você possui
um ad-blocker ativo!

Para acessar todo o conteúdo dessa página (imagens, infográficos, tabelas), por favor, sugerimos que desabilite o recurso.

Editorial

A postergação do acordo Mercosul–UE e seus custos estratégicos para o Brasil

O atraso europeu compromete a integração do País às cadeias globais de valor, afeta investimentos e limita ganhos de produtividade essenciais para o crescimento sustentável

Ajustar texto A+A-

A postergação do acordo Mercosul–UE e seus custos estratégicos para o Brasil
Postergação limita a inserção estratégica do Brasil nas cadeias globais de valor

Por Rubens Medrano*

A postergação da assinatura do acordo com o Mercosul por parte da União Europeia (UE) é um episódio que transcende a esfera comercial. Em um sistema internacional pressionado pela polarização entre China e Estados Unidos e pelas incertezas de novas diretrizes na nação norte-americana, a consolidação dessa parceria é de suma relevância para integrar o Brasil como um protagonista nas cadeias globais de valor.

A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), fiel à sua trajetória em defesa de uma abertura comercial criteriosa e responsável, observa com preocupação o fato de que, após duas décadas de esforços diplomáticos, as negociações tenham encontrado resistências domésticas de alguns membros europeus. É lamentável que pressões setoriais localizadas ainda prevaleçam sobre uma visão de Estado moderna, mantendo vivo um protecionismo que se mostra anacrônico diante dos benefícios que o acordo trará para o desenvolvimento do bloco econômico europeu.

Os números não deixam margem para dúvidas sobre a relevância dessa relação: a UE é o segundo maior parceiro comercial do Brasil, com um intercâmbio que atingiu a marca de US$ 95 bilhões em 2024, abarcando uma população de mais de 700 milhões de pessoas e responsável por metade do investimento direto externo em nosso solo. O acordo não representa, por sua vez, uma via para o escoamento de produtos, mas um catalisador de produtividade, inovação e redução de custos operacionais para as empresas brasileiras.

“Ao adiar o acordo com o Mercosul, a Europa não apenas fecha portas ao Brasil — compromete sua própria relevância em um mundo cada vez mais multipolar.”

O distanciamento de certos governos europeus dessa convergência econômica contrasta com as lições da história recente. Enquanto economias dinâmicas buscam a eficiência por meio da integração, o retorno a barreiras tarifárias e não tarifárias costuma punir o consumidor nacional e diminuir a competitividade industrial.

O tratado vislumbra um horizonte ambicioso — a desoneração de 90% dos produtos em um ciclo de 15 anos. Do agronegócio de precisão à manufatura de alto valor agregado, os benefícios serão mútuos e profundos. O sucesso das negociações do acordo assinado em 2025 entre o Mercosul e a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA) — que reúne a Suíça, a Noruega, a Islândia e a pequena Liechtenstein — prova que, quando há pragmatismo e vontade política, um tratado pode caminhar e evoluir sem percalços.

Em suma, a FecomercioSP reitera que o Estado brasileiro cumpriu o seu papel nessa etapa de integração internacional. A persistência de visões protecionistas em alguns países europeus não apenas priva o Mercosul de oportunidades valiosas, mas também ameaça as relevâncias política e econômica da UE num mundo cada vez mais multipolar. A esperança é que a UE consiga contornar, em curto prazo, as dificuldades que deram causa à postergação a fim de que o processo de assinatura seja concluído definitivamente.

O Brasil demonstra prontidão e comprometimento com a promoção diplomática para o futuro, cabendo aos nossos parceiros europeus decidirem se preferem o isolamento ou as vantagens da parceira.

*Rubens Medrano é presidente do Conselho de Relações Internacionais da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).

Rubens Medrano, presidente do Conselho de Relações Internacionais da FecomercioSP Rubens Medrano, presidente do Conselho de Relações Internacionais da FecomercioSP
Rubens Medrano, presidente do Conselho de Relações Internacionais da FecomercioSP


Inscreva-se para receber a newsletter e conteúdos relacionados

* Veja como nós tratamos os seus dados pessoais em nosso Aviso Externo de Privacidade.
Fechar (X)