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Editorial

Aquecimento global: o que fazer?

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Aquecimento global: o que fazer?

Talvez inadvertidamente, em 2 de novembro - Dia de Finados - foi divulgado em Copenhague o mais recente relatório sobre mudanças climáticas que alerta para o fato de que os danos já causados poderão ser irreversíveis. O evento teve a participação do secretário-geral das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon.

Do ponto de vista científico, o relatório é irretorquível. Participaram de sua preparação cerca de 800 cientistas, que analisaram cerca de 30 mil trabalhos científicos durante os últimos anos.

O documento identifica claramente os vilões que estão causando o problema: a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento, que resultam na emissão de gases que provocam o aquecimento global.

Por conseguinte, a única solução realista seria reduzir o consumo de combustíveis fósseis e o desmatamento ou, então, capturar os gases emitidos e enterrá-los, o que envolve tecnologias que ainda não atingiram a maturidade.

O relatório aponta ainda vários caminhos para reduzir as emissões, incluindo o aumento da participação das fontes renováveis de energia, como forma de substituir os combustíveis fósseis.

Do ponto de vista político, o evento da divulgação foi decepcionante, como se depreende das palavras do próprio diretor do Painel Internacional de Mudanças Climáticas (IPCC), o indiano Rajendra Pachauri. Segundo ele, “agora que a comunidade científica se pronunciou, o bastão passa para os políticos, isto é, a comunidade que toma as decisões”.

O secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, no fundo, desqualificou o relatório do IPCC, ao descrevê-lo como “mais um canário na mina de carvão”. Como se sabe, há séculos, canários são usados para detectar concentrações elevadas de gás metano nas minas de carvão. O aumento das concentrações — que é um prelúdio para explosões nas minas — causa a morte dos canários, antes que elas ocorram.

Alertar para o perigo, como fazem os canários nas minas, nunca bastou. O que reduz os perigos da mineração de carvão é aumentar medidas de segurança. No caso das mudanças climáticas, o que é preciso são ações dos governos.

Ao apresentar uma gama de opções, como o relatório faz, sem avaliar sua viabilidade técnica e sem priorizá-las, ele não serve de guia para as ações necessárias.

Para tal, seriam necessários relatórios mais assertivos, envolvendo os ministérios de planejamento dos governos, economistas e, sobretudo, o setor produtivo, que levassem às mudanças de políticas nacionais na produção e uso de combustíveis fósseis e redução do desmatamento.

Sem que isso seja feito, chegaremos à Conferência de Paris, no fim de 2015, com a revisão do Protocolo de Kyoto, que isentou os países em desenvolvimento de reduções nas suas emissões. O fato de a China ter se tornado o maior emissor mundial (superando os Estados Unidos) mostra o quão necessário é reformular esse Protocolo.

O fato de que “as mudanças climáticas não deixarão nenhuma parte do mundo intocada pelos impactos que estamos vendo diante de nossos olhos”, nas palavras do diretor do IPCC, tem que ser acompanhado de ações correspondentes das diversas partes do mundo.

O Brasil precisa acordar para esses problemas e abandonar a política, seguida até agora, de defender que os países em desenvolvimento não podem participar das reduções de emissões porque isso comprometeria o seu crescimento econômico e o desenvolvimento.

Está demonstrado que é possível crescer sem comprometer o desenvolvimento, adotando tecnologias “limpas” no processo de desenvolvimento. Já fizemos isso no passado, com uma das matrizes energéticas que tem a maior parcela de energias renováveis do mundo.

O que é preciso fazer é impedir que essa estratégia seja abandonada e encorajar outros países em desenvolvimento, inclusive a China, a seguir o mesmo caminho.

José Goldemberg é presidente do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP.
Artigo publicado no jornal Correio Braziliense em 07/11/2014, página 11.

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