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Negócios

Comércio mantém saldo positivo de empregos, mas enfrenta alta rotatividade no varejo

Dados apresentados em reuniões das regionais do Conselho do Comércio Varejista da FecomercioSP apontam resiliência na geração de vagas, mas evidenciam desafios estruturais de retenção de mão de obra e custos elevados para os empresários

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Comércio mantém saldo positivo de empregos, mas enfrenta alta rotatividade no varejo
O Comércio continua entre os maiores empregadores do País, mesmo diante de juros altos, endividamento e inadimplência dos consumidores (Arte: TUTU)

O mercado de trabalho no Comércio vive um momento de contrastes. De um lado, o setor é historicamente a principal porta de entrada para quem busca o primeiro emprego, garantindo renda para milhões de brasileiros. De outro, enfrenta obstáculos como baixa produtividade e um efeito porta giratória, em que muitos trabalhadores entram e saem rapidamente das empresas.

O Comércio continua entre os maiores empregadores do País, mesmo diante de juros altos, endividamento e inadimplência dos consumidores. Porém, encara obstáculos persistentes: elevada rotatividade e a dificuldade de reter talentos.

Segundo Kelly Carvalho, assessora da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), o atual aquecimento do mercado de trabalho traz um cenário de reposição constante. “O setor vem registrando aumento no emprego, mas a elevada rotatividade mostra que muitas vezes há apenas reposição da mão de obra, e não a criação de novas vagas. Esse processo gera custos significativos para os empresários, que precisam investir continuamente em seleção, treinamento e integração”, pondera. A análise ocorreu durante as reuniões das regionais do Conselho do Comércio Varejista da Federação, em setembro.

Os dados foram apresentados nas reuniões de setembro, do Conselho do Comércio Varejista da FecomercioSP   

Desafios do varejo

No Estado de São Paulo, o Comércio varejista registrou, até junho de 2025, saldo positivo de 14,1 mil vagas formais, segundo dados do Novo Caged. De acordo com cálculos realizados pela FecomercioSP, a taxa de rotatividade até junho foi de 37%, ou seja, de cada 100 trabalhadores contratados ao longo do ano, mais de 30 deixaram as empresas. Na prática, o varejo substitui cerca de um terço da sua força de trabalho a cada ano. Considerando essa dinâmica, um estabelecimento pode levar, em média, 1,7 ano para trocar todo o quadro de funcionários.

Apesar do desempenho, os desligamentos praticamente acompanharam as admissões, evidenciando a dificuldade para reter trabalhadores. Para os pequenos negócios, a consequência é ainda maior, uma vez que possuem menos capacidade financeira para absorver os custos da alta rotatividade. Além disso, a saída de um empregado representa a perda de conhecimento e experiência acumulada, sendo um custo indireto para o empresário, porque afeta a confiança dos consumidores que muitas vezes já têm a sua preferência de atendimento.

Kelly destaca ainda que a dificuldade de mão de obra no varejo também tem relação com o perfil dos candidatos — da Geração Z —, que buscam flexibilidade, equilíbrio entre vida pessoal e profissional e possibilidade de diversificar a sua geração de renda. “A geração dos chamados nativos digitais está mais disposta a trocar de empresa quando encontram oportunidades que ofereçam esses diferenciais”, destaca.

Outro dado relevante é que o número de trabalhadores com carteira assinada no setor privado alcançou 39 milhões no Brasil, um recorde histórico. Ainda assim, a informalidade segue elevada, mas sendo a segunda menor taxa da série histórica, sendo superada apenas pelo mesmo trimestre de 2020 (36,6%) — entre abril e junho, 37,8% da força de trabalho estava em situação informal, o equivalente a 38,7 milhões de pessoas.

Esse movimento conecta-se ao crescimento exponencial do Microempreendedor Individual (MEI), que já representa 53,1% das empresas ativas no Estado de São Paulo, no primeiro semestre de 2025. São mais de 3,7 milhões de microempreendedores individuais. De acordo com Paulo Igor de Souza, assessor da FecomercioSP, é um dado que merece atenção. “O MEI tem crescido como alternativa de formalização, mas muitas vezes é usado para substituir empregos com carteira. É fundamental que o empresário tenha clareza de que esse tipo de prática pode trazer riscos jurídicos e financeiros”, alerta.

Formas de contratação disponíveis no ordenamento jurídico

Souza frisou que a convenção coletiva firmada entre os sindicatos laboral e patronal é a ferramenta que viabiliza jornadas e segurança jurídica às empresas, especialmente no Comércio, que exige trabalho aos domingos, feriados e datas sazonais. Modelos de escala e jornadas parciais são algumas das alternativas que podem ser pactuadas, ampliando a flexibilidade e entregando possibilidades gerenciais mais assertivas às empresas a descumprir a legislação.

Por outro lado, o formato de trabalho intermitente, considerado constitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF), pode ser utilizado em períodos de maior demanda. “Essa modalidade, quando bem aplicada, ajuda a suprir necessidades sazonais do varejo, respeitando as regras de convocação e remuneração previstas em lei”, explicou.

Oportunidades para reter talentos

Mesmo diante desses desafios, os especialistas apontam caminhos para melhorar a gestão de pessoas no Comércio. Dentre eles estão a realização de processos seletivos mais assertivos e claros, focados em identificar habilidades, necessidades e competências, para funções nos estabelecimentos físicos e no ambiente digital.

Kelly reforça que o varejo pode aproveitar seu papel como primeiro emprego para criar planos de carreira. “É possível reter jovens talentos com parcerias em programas de aprendizagem e estágios, oferecendo metas de permanência e capacitação. A tecnologia também pode ajudar, reduzindo retrabalho e aumentando a produtividade no dia a dia da loja”, opina.

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