Sustentabilidade
21/10/2025Como comunicar e despertar atenção para a emergência climática?
Diálogo e engajamento em torno da agenda são tema de debate do Canal UM BRASIL às vésperas da COP 30

A 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP30, se aproxima. Para aquecer os temas que vão movimentar esse encontro global, a Casa Balaio, um casarão histórico em Belém do Pará, foi palco do Encontros COP30 I Clima, Impacto & Mercado, no dia 1º de outubro.
O evento, que reuniu especialistas com visões plurais sobre o meio ambiente, a comunicação e o setor de negócios, foi realizado em parceria com a Revista Problemas Brasileiros (PB) e apoio do Canal UM BRASIL — ambas realizações da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). A Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) também foi apoiadora da iniciativa.
O painel “Sociedade e Diálogo Climático”, que você confere neste vídeo, pôs em discussão como narrativas estratégicas de impacto podem engajar a sociedade em ações sustentáveis.
Lucas Mota, editor da PB, mediou a conversa, que reuniu Victor Pereira, gerente de Relações Institucionais e Internacionais da Aberje; Mônica Sodré, cientista política, senior fellow do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), entrevistadora do Canal UM BRASIL e diretora-executiva da organização Meridiana; e Kelly Lima, sócia-fundadora da Alter Comunicação e idealizadora da Casa Balaio. Confira a seguir.
Visões sobre a crise do clima
- Uma agenda repleta de estigmas. Segundo Mônica, o clima tem sido visto como uma pauta de elite. Essa noção é um desafio para o engajamento na pauta não só da sociedade, como também do Poder Público. “Há 50 anos, a ciência sabe que o mundo está esquentando. A gente não conseguiu fazer cortes de emissão de gases de efeito estufa no tempo e na velocidade que a ciência demanda”, alerta.
- Balança pesa mais para necessidades urgentes. A cientista política lembra que a maior parte da população precisa lidar com necessidades vitais que fazem com que as pautas climáticas e ambientais sejam deixadas em segundo plano. “É muito difícil pedir que, num Brasil tão desigual, as pessoas se preocupem com o clima, quando elas precisam se preocupar com comer, com pagar uma conta de energia elétrica”, observa.
- Um problema do futuro? Mônica também critica a visão dos políticos, que, segundo ela, tratam a agenda climática como “uma catástrofe a ser esperada” — ou seja, um futuro inevitável. Essa forma de comunicação incita a busca por soluções. “Por mais que tenha acontecido um desastre como no Rio Grande do Sul, por mais que saibamos [de tudo o que acontece] — porque escutamos no jornal, vemos na TV —, essencialmente, o tom é de tragédia. E tragédia não mobiliza ninguém”, explica.
Mudando o tom da discussão
- Outra narrativa. Mônica ainda defende uma mudança de tom: falar do que temos de positivo para além dos problemas. “A agenda, muitas vezes, peca por centrar excessivamente na tragédia — a seca, a enchente, a perda do PIB, os desafios econômicos etc. E, aqui, a comunicação tem um papel”, adverte. “Esse Brasil tem solução. Na área de Biocombustível, na Energia… Este país sabe fazer coisas relevantes para o mundo e também para a agenda do clima.”
- Como comunicar a crise? Kelly corrobora a visão de Mônica. Segundo a idealizadora da Casa Balaio, a mudança do clima deixou de ser uma questão restrita à ciência e passou a ser um problema da comunicação. “Tudo o que a ciência poderia falar já está falado. E agora, como é que a gente lida com esse barulho?”, questiona. Na sua opinião, o desafio do comunicador é traduzir a questão climática, explicar em outras palavras, e de outras formas, o que a ciência já vem alertando há anos.
Transformando impacto em ação
- Engajamento e experiência. Num mundo onde a comunicação e as redes sociais viraram sinônimos, a questão é conseguir captar a atenção do espectador e, “em seis segundos, transformar uma mensagem em uma ação”, acredita Pereira, da Aberje. “E há um outro caminho, que é o da experiência. Como você transforma uma experiência numa mudança de comportamento, numa memória positiva que vai influenciar uma ação, ou uma fala, ou um posicionamento?”, indaga.
- Influenciando comportamentos. Na perspectiva da COP30, por exemplo, que vai acontecer no coração da floresta, Pereira acredita que é importante estimular experiências que envolvam a Amazônia. A intenção é, dessa forma, influenciar comportamentos e visões quanto à conservação e à mudança climática. “A pessoa passa uma semana em Belém e volta, para onde quer que seja, com uma outra visão sobre isso”, conclui.