Imprensa
19/05/2025“Estamos vivendo um desastre construído — e podemos desmontá-lo”, afirma Sônia Bridi
Durante evento da Semana S, jornalista relata os impactos visíveis da crise climática para o planeta e defende soluções locais e de baixo custo como caminho para a adaptação e a transformação

Por que a crise climática ainda é tratada com indiferença por tantos setores da sociedade? A jornalista Sônia Bridi, uma das vozes mais respeitadas na cobertura ambiental no Brasil, responde de forma enfática: “É difícil mudar o cotidiano das pessoas em um país desigual. Se você está preocupado em pagar a escola do seu filho ou com o transporte até o trabalho, é complicado pedir mais sacrifícios”.
Em painel promovido no primeiro dia da Semana S, Bridi compartilhou experiências de mais de 30 anos de jornalismo voltado para essas pautas. Desde a Rio-92, quando participou dos painéis científicos, ela compreendeu que o aquecimento global era real e perigoso. “Ali, ficou claro para mim que meu papel como jornalista era manter esse assunto na pauta pública”, afirma.
“A temperatura que só chegaríamos em 2050 já foi atingida”
A jornalista citou o avanço do derretimento de geleiras, especialmente na Groenlândia e na Antártida, como um dos sinais mais alarmantes da aceleração da mudança climática. “A geleira que eu visitei, em 2010, recuou mais de 10 quilômetros. Aquilo que era gelo sólido, agora, é mar aberto”, descreveu. Ela lembra que os cientistas previam que o planeta atingiria o aumento de 1,5°C por volta de 2050. “Chegamos lá em 2023. Isso é assustador. As mudanças previstas para daqui a décadas estão acontecendo agora”, alertou aos participantes do evento.
A Semana S, uma realização conjunta da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), do Sesc-SP e do Senac-SP reuniu autoridades, empresariado, trabalhadores e trabalhadoras e sociedade em geral no Sesc Pompeia, em São Paulo, nos dias 16 e 17 de maio, para discutir as transformações atuais que o mundo está vivenciando. O evento faz parte de uma ação integrada do Sistema Comércio, encabeçado pela Confederação Nacional do Comércio (CNC).
“Vivemos um tempo em que as certezas se dissolvem com rapidez, e, mais do que nunca, precisamos refletir sobre como construir um setor produtivo preparado para os desafios sociais, econômicos e ambientais”, discursou, na abertura, o presidente executivo da FecomercioSP, Ivo Dall’Acqua Júnior. Na ocasião, estiveram presentes também Luiz Francisco Salgado, diretor regional do Senac-SP; Luiz Galina, diretor do Sesc-SP; e Márcio França, ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte.
“O Sesc, o Senac e a FecomercioSP são agentes de mudança há mais de oito décadas, porque inovam sem abrir mão da essência, ao promoverem cidadania, inclusão, educação e cultura. A Semana S é um chamado coletivo para reconhecer a força do diálogo, da diversidade e do conhecimento como base da emancipação. Que este seja um momento de inspiração para transformar o Brasil com responsabilidade, respeito e protagonismo social”, disse Dall’Acqua ao lembrar do legado de gestão do empresário Abram Szajman, presidente da Entidade, à frente da FecomercioSP.
















O planeta não reconhece ideologia
Sônia, que participou do segundo painel do primeiro dia, também abordou a politização do debate climático. “Houve um sequestro ideológico do tema. Combater a ciência virou pauta ideológica em alguns grupos, como vimos na pandemia. Mas o planeta não reconhece esquerda, direita ou centro — a natureza, simplesmente, reage”, disse. Ela criticou o lobby de setores ligados a combustíveis fósseis e ao desmatamento, que investiram em desinformação e negacionismo.
Ao tratar da transição energética, a jornalista reforçou que o Brasil tem vantagens naturais, como interligação elétrica e potenciais solar e eólico. “É claro que não vamos desligar a Petrobras de um dia para o outro. Mas precisamos de rumo. As tragédias que estamos vivendo hoje, como no Rio Grande do Sul, consomem recursos que deveriam estar sendo usados para construir o futuro: escolas, hospitais, infraestrutura etc.”, defendeu.
Apesar do cenário alarmante, Sônia defendeu que há soluções possíveis, sustentáveis e até lucrativas. Ela citou exemplos de “design passivo” em cidades sustentáveis, soluções baseadas na natureza em Nova York e projetos de “cidades-esponja” na China. “A natureza tem valor. Onde há área verde e qualidade de vida, o Comércio cresce, o metro quadrado se valoriza e as pessoas ficam mais dispostas”, ressaltou.
Dessa forma, a jornalista apresentou soluções concretas e inspiradoras que já estão sendo aplicadas em diferentes partes do mundo e que demonstram como é possível lidar com a crise climática com inteligência, planejamento urbano e inovação. A seguir, confira as principais destacadas.
1. Design passivo e cidades inteligentes
- Exemplo: cidade de Masdar (Abu Dhabi), projetada para ser totalmente sustentável.
- Arquitetura pensada para usar menos energia: estruturas que canalizam o vento e reduzem a necessidade de ar-condicionado.
- Sistemas subterrâneos de transporte elétrico e uso intenso de energia solar.
- Solução que reduz emissões ao “gastar menos” energia, e não apenas ao gerar energia limpa.
“A melhor solução é aquela que você não precisa gastar.”
2. Soluções baseadas na natureza
- Nova York está reconstruindo ilhotas no East River e no Rio Hudson com vegetação nativa para restaurar a vida aquática e melhorar a qualidade da água.
- Atrair os pássaros e a vida das águas, como ostras, algas e vegetações, funciona como filtros naturais e ajuda a controlar a temperatura da água, além de servir como barreiras naturais contra inundações (quebra-mar).
3. Cidades-esponja
- Ningbo e Zhejiang (China) estão sendo redesenhadas com grandes áreas verdes e alagadas, capazes de absorver volumes intensos de chuva.
- Esses parques alagáveis funcionam como esponjas, evitando enchentes urbanas e melhorando a qualidade de vida.
“O valor do metro quadrado nessas regiões restauradas dispara. A natureza gera valor.”
4. Sargaço como ativo de carbono
- A proliferação descontrolada de sargaço no Caribe, por exemplo, está sendo transformada em solução.
- A alga é coletada no mar, comprimida e enviada ao fundo oceânico como forma de estocagem de carbono.
- O carbono estocado pode ser negociado no mercado de créditos, transformando um problema ambiental em oportunidade econômica.
5. Sedimentos glaciares como fertilizantes
- O derretimento das geleiras na Groenlândia está liberando sedimentos ricos em nutrientes.
- Empresas já estão explorando esse “pó de rocha” para produzir fertilizantes sustentáveis e reduzir a poluição de rios e oceanos por excesso de nitrogênio.
6. Ação local com impacto global
- A jornalista reforça que pessoas e empresas podem contribuir.
- Cita iniciativas como as “florestas urbanas”, que transformam pequenos espaços urbanos em áreas verdes com altos impactos ambientais e sociais.
- Incentiva empresários a revisarem processos internos, reduzirem emissões, investirem em corredores verdes e participarem de ações comunitárias.
“Esse desastre foi construído — e, portanto, pode ser desmontado. A solução é local. Toda ação conta.”
No encerramento do painel, Sônia fez um chamado direto a empresários e cidadãos. “O mais barato é o que você não gasta. Toda ação conta. Plantar uma árvore, usar menos energia, revisar os processos da sua empresa. A resposta não virá só dos governos — ela precisa começar em cada bairro, cada negócio, cada decisão.”
Saiba mais
- Link para matéria do primeiro painel
- Semana S: uma questão de compromisso
- FecomercioSP, Sesc e Senac discutem economia, sustentabilidade e tecnologia com governo e empresas
Saiba mais
- Link para matéria do primeiro painel
- Semana S: uma questão de compromisso
- FecomercioSP, Sesc e Senac discutem economia, sustentabilidade e tecnologia com governo e empresas
Inscreva-se para receber a newsletter e conteúdos relacionados
Notícias relacionadas
-
Editorial
FecomercioSP, Sesc e Senac discutem economia, sustentabilidade e tecnologia com governo e empresas
Programação trouxe temas fundamentais como IA, adoção de práticas de diversidade e inclusão no ambiente corporativo
-
Imprensa
FecomercioSP, Sesc e Senac, juntos, na Semana S
EditorialSemana S: uma questão de compromisso
ImprensaFecomercioSP, Sesc e Senac promovem evento sobre tendências contemporâneas em São Paulo