A crescente dificuldade das empresas dos setores produtivos para contratar trabalhadores qualificados está no centro de um debate que volta à Câmara dos Deputados: a aprovação do Projeto de Lei (PL) 1.599/2025, o Emprega Turismo. O PL, cuja proposta é fruto de uma construção técnica da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do estado de São Paulo (FecomercioSP), é visto como peça-chave para destravar o crescimento do setor e reduzir os gargalos que já pressionam os salários e limitam a competitividade.

O PL Emprega Turismo busca criar um programa nacional de incentivo à qualificação profissional, alinhado com as demandas atuais do Comércio e do Turismo, sobretudo em áreas ligadas a Logística, Tecnologia e Serviços. A proposta inclui estímulos para que as empresas invistam na formação de mão de obra, parcerias com instituições (como o Senac) e políticas para acelerar a absorção de profissionais em funções estratégicas.

Para empresários, a aprovação do projeto é urgente. Sem trabalhadores qualificados para atender à expansão do Turismo e do Varejo digital, a perda de oportunidades econômicas pode se agravar.

Escassez atinge patamar histórico

Dados recentes da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) apontam que 57% das principais ocupações do setor apresentaram indícios de escassez de mão de obra em julho de 2025, o maior índice desde 2020. Apesar de o setor ter gerado 321,5 mil vagas formais entre agosto de 2024 e julho de 2025, seriam necessárias 110 mil contratações adicionais para equilibrar o mercado e aliviar a pressão sobre os salários.

O levantamento mostra também que o Comércio nacional está diante de uma transformação profunda. Investir na formação e na atualização dos trabalhadores é fundamental para que as atividades continuem crescendo de forma sustentável e garantindo oportunidades em novas áreas de atuação.

Turismo e Comércio na linha de frente da retomada

A economia brasileira registra sinais de melhora. A taxa de desemprego caiu para 5,8% no segundo trimestre deste ano, menor nível desde o início da série histórica, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Comércio e Serviços lideraram a expansão do emprego, com destaque para os crescimentos de 6,4% em transportes, armazenagem e correio e de 1,4% no comércio.

Contudo, a falta de profissionais tem provocado reajustes salariais acima da média. No período de julho de 2024 a julho de 2025, 75% das ocupações do Comércio tiveram salários de admissão acima do índice médio de 5,3%.

A transformação exige respostas rápidas. A escassez de profissionais em segmentos como logística e estocagem evidencia um descompasso entre oferta de mão de obra e novas demandas do setor. Esse é um desafio estrutural que tende a se acentuar com a expansão do comércio eletrônico.

A expansão desse setor nos últimos cinco anos ilustra a mudança do perfil de demanda — a receita nominal do e-commerce cresceu 311%, contra 55% do Comércio como um todo. Isso aumenta a procura por funções técnicas, como auxiliar de logística (22,7%), estoquista (14,6%) e expedidor de mercadorias (13,1%), enquanto posições tradicionais, como vendedores e caixas, seguem relevantes, mas com menor pressão por novas contratações.

Para empresários do Turismo, que dependem de uma cadeia de serviços eficiente, a modernização do varejo exige mão de obra preparada não só para o atendimento presencial, como também para a integração de processos digitais de reservas, logística e gestão de experiências.

A hora de agir

Com o PL Emprega Turismo, o setor vê uma oportunidade de ampliar a qualificação, reduzir gargalos e manter o ritmo de crescimento sem pressionar a folha de pagamento. “A aprovação do projeto pela Câmara é um passo essencial para alinhar a força de trabalho com as novas demandas do mercado”, alerta o economista e presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP, Guilherme Dietze.

A Federação aposta em uma tramitação ágil do projeto na Câmara dos Deputados, destacando que a prioridade é inegociável. Afinal, investir em capacitação é investir no futuro do Turismo e do Comércio brasileiro. Como reforça Dietze, “o PL Emprega Turismo é uma política pública estratégica, capaz de converter a escassez de mão de obra em uma poderosa alavanca de oportunidades para toda a cadeia produtiva”.