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25/09/2025Impacto do tarifaço dos Estados Unidos para a economia brasileira: desafios e orientações para o atacado
Tarifas norte-americanas derrubam exportações brasileiras em quase US$ 600 milhões e acendem alerta para o setor, que busca alternativas diante de margens comprimidas e incerteza global

O anúncio de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos atinge diretamente 56% das exportações nacionais destinadas ao mercado norte-americano. O efeito imediato foi uma queda, em agosto, de 18,5% nas vendas para o país, o que equivale a cerca de US$ 600 milhões em perdas. Esse quadro exige atenção redobrada dos empresários brasileiros, sobretudo do comércio atacadista.
Ainda que setores estratégicos tenham sido isentos (aeronáutico, energia, celulose e papel, automotivo e suco de laranja), produtos de peso para a pauta exportadora brasileira (como açúcar, carnes, café e frutas) sofreram reduções drásticas, algumas superiores a 70%.
Esse foi um dos temas da reunião de setembro do Conselho do Comércio Atacadista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). Além de apresentar um panorama geral dos efeitos do tarifaço na economia brasileira, em sua apresentação, André Sacconato, assessor da Entidade, apontou os pontos que merecem atenção, os impasses e as orientações aos empresários do setor. Confira a seguir.
Efeitos na economia brasileira
- Dependência de mercados concentrados: os Estados Unidos absorvem 11,8% das exportações brasileiras. A China mantém a liderança como principal parceiro comercial do País, absorvendo 30,2% das exportações, seguida por Argentina (5,9%), Países Baixos (3,7%) e México (2,9%). A medida expõe a vulnerabilidade do Brasil frente a políticas unilaterais.
- Atividades mais afetadas: açúcar (-88,4%), carnes (-76%), café (-45%) e frutas (-38%) estão entre os mais prejudicados, com risco de inviabilização de operações. Esses números representam não apenas perdas econômicas, mas também impactos sobre empregos e desenvolvimento regional.
- Atividades preservadas: aeronáutica, energia, celulose/papel, automotiva e suco de laranja receberam isenção, refletindo integração estratégica com cadeias produtivas estadunidenses.
- Efeitos internos: embora o mercado de trabalho brasileiro siga aquecido, a elevação da taxa Selic para 15% ao ano encarece o crédito, pressiona margens e limita investimentos.
Pontos de atenção para o atacado
- Custos e margens: o encarecimento do crédito e o câmbio ainda elevado, apesar do alívio recente no dólar, seguem pressionando os custos de importados e insumos, comprimindo margens já estreitas.
- Redirecionamento de estoques: produtos antes destinados aos Estados Unidos precisarão ser absorvidos por mercados alternativos (China, México, Argentina, União Europeia etc.), afetando volumes e preços no atacado.
- Logística e adaptação: novos mercados exigem certificações, ajustes de embalagem, padrões sanitários e redes de distribuição diferenciadas.
Desafios estratégicos
- Conjuntura internacional instável: o índice de incerteza global atingiu 164%, um recorde histórico, superando a pandemia e a crise de 2008. Isso afeta decisões de consumo, investimento e políticas comerciais.
- Pressão sobre margens: importadores norte-americanos repassam custos, ao passo que empresas brasileiras sentem o efeito indireto em renegociações de preços.
- Acesso a crédito: linhas especiais do governo ajudam, mas são paliativas. Custos financeiros seguirão altos.
- Insegurança contratual: exportadores e distribuidores sofrem com indefinição regulatória, afetando previsibilidade de demanda.
- Repasses de custos na cadeia: atacadistas precisam negociar com fornecedores e clientes finais em ambiente de alta volatilidade.
Orientações aos empresários do setor
- Diversificação de mercados e fornecedores: buscar alternativas comerciais além dos Estados Unidos e diversificar origens de importação para reduzir riscos.
- Gestão rigorosa de custos: revisar contratos, renegociar prazos e fortalecer o controle sobre despesas financeiras e logísticas.
- Eficiência operacional: investir em tecnologia, automação e logística inteligente para manter competitividade mesmo em ambiente de margens apertadas.
- Aproveitar apoios governamentais: linhas de crédito subsidiado, programas de incentivo à exportação e suporte técnico para certificações podem aliviar parte da pressão imediata.
- Inovação e valor agregado: apostar em diferenciação de produtos e serviços para resistir melhor à guerra de preços que tende a se intensificar.
- Planejamento de cenários: trabalhar com projeções alternativas (otimista, conservadora e adversa), garantindo flexibilidade estratégica frente a mudanças repentinas no ambiente global.
Na visão da FecomercioSP, o tarifaço norte-americano representa um choque negativo relevante, sobretudo para o Agronegócio e áreas tradicionais. No entanto, abre espaço para um reposicionamento estratégico das empresas brasileiras. Para o comércio atacadista, o desafio é equilibrar margens comprimidas, custos elevados e incerteza global. No curto prazo, a palavra-chave é cautela. Em médio e longo prazos, a diversificação de mercados e a inovação são os caminhos para transformar a crise em oportunidade.