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06/06/2025Inflação e juros altos deixaram 112 mil famílias inadimplentes em São Paulo, nos últimos três meses
Taxa subiu pelo terceiro mês seguido em maio, chegando a 21,7% dos lares da cidade; endividamento atinge 71,2% das famílias

A inadimplência continua escalando em São Paulo. Em maio, pelo terceiro mês seguido, o volume de famílias com contas atrasadas subiu, desta vez para 21,7% dos lares. Em fevereiro, a taxa era de 19%. Os dados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), elaborada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
Esses números apontam para uma situação preocupante de deterioração gradual das condições financeiras das famílias. Sem um aumento real expressivo na renda média, a inflação persistente — que deve crescer, pelo menos, 5% em 2025 — e a dependência do crédito, cujos juros anuais superam 48%, vão manter esse contexto de inadimplência elevada nos próximos meses. Desde fevereiro, 112,5 mil famílias entraram para o grupo de inadimplentes.
E ainda que o tempo médio dos atrasos tenha caído timidamente — de 63,8 para 62,7 dias, entre abril e maio —, contas vencidas e não pagas em um intervalo de 30 dias aumentaram para 24,4% na composição da inadimplência nesse mesmo intervalo.
O endividamento também cresceu na mesma dimensão: em maio, já eram 71,2% das famílias (sobre 67,7%, em fevereiro). Em números absolutos, são 2,91 milhões de lares nessa situação.
Uma análise com base no corte de renda reforça o argumento de que a inflação está prejudicando muito o orçamento familiar na cidade. Dentre as casas com renda abaixo de dez salários mínimos (média e baixa, portanto), 75,6% convivem com dívidas. Dentre as classes mais altas, essa taxa é de 58,4%.
Cartão de crédito segue como escape
O grande motivador do endividamento das famílias paulistanas permanece no cartão de crédito, com 77,8% dos casos. Ainda assim, é o menor patamar da presença dessa modalidade na composição das dívidas desde março de 2021. Isso se explica, em parte, pelas retrações nas ofertas e por uma percepção de que, ao usá-lo, há mais chance de entrar na situação de inadimplência.
Chama a atenção que 15% dos endividamentos estejam lidando com dívidas de um financiamento imobiliário. Trata-se de um risco para o orçamento doméstico, dado o longo prazo dessa conta e, por consequência, a pressão causada pela inflação sobre o orçamento. No limite, as famílias podem acabar deixando de pagar as mensalidades ou até fazendo outras dívidas justamente para pagá-las.
Crédito para pagar dívidas
A PEIC de maio aponta, ainda, que mais pessoas têm recorrido ao crédito para quitar dívidas. O número daquelas que estão pensando em pedir algum tipo de empréstimo com esse objetivo subiu de 8,8% para 9,6%. No geral, 14,1% dos entrevistados pela pesquisa cogitam recorrer a essa modalidade.
Segundo a FecomercioSP, é um indicativo de que as dívidas de curto e médio prazos (de três meses a um ano) têm crescido na capital paulista, o que se encaixa no perfil de muitas famílias com necessidade de pagar contas e manter o consumo essencial diante do menor poder de compra.
Apesar disso, o comprometimento da renda com dívidas recuou, atingindo 28,4%, menor patamar desde setembro de 2021, estimulado pelo crescimento da parcela com comprometimento inferior a 10%.
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