Para o professor, as ideias liberais têm encontrado espaço no país após a eleição de Javier Milei (Crédito: UM BRASIL)
O liberalismo vive um momento importante na Argentina, defende Iván Carrino, professor de Economia na Universidade de Buenos Aires.
Para o professor, as ideias liberais têm encontrado espaço no país após a eleição de Javier Milei — um outsider que adotou o liberalismo populista como estratégia para dialogar com uma nação marcada por uma crise macroeconômica.
Rejeição ficou para trás. Entre as décadas de 1990 e 2000, o liberalismo — ou neoliberalismo — passou a ser rechaçado pela população argentina. “Quase virou um palavrão no dicionário”, conta Carrino. Naquele momento, o mundo experimentou projetos ancorados no “socialismo do século XXI”. “Vieram os maus resultados. Muita inflação, baixo crescimento econômico, o preço do dólar subindo. A população também se cansou de tudo isso”, opina.
Populismo liberal. Com uma história marcada por governos populistas, a Argentina vive agora uma espécie de populismo liberal, caminho encontrado por Milei para dialogar com o país — em especial com o empresariado, o comércio e a população empregada, explica o professor.
Classe oprimida. “O populismo divide a sociedade entre os bons, porém oprimidos, e a classe dominante que os oprime”, pontua Carrino. Milei afirma que, hoje, a classe oprimida é aquela que paga impostos, que quer chegar ao seu trabalho em segurança e ganhar um salário digno. “E quem é que impede tudo isso? É o governo que gasta demais, que faz déficit fiscal, que cobra muitos impostos e gera altíssimos níveis de inflação”, completa.
Liberalismo ganha espaço. As ideias liberais de Milei aparecem como solução para uma população que acaba de viver uma crise macroeconômica. Como? “Com o encolhimento do Estado, baixando o gasto público, a inflação, e eventualmente os impostos, para que o povo, que trabalha e faz comércio, possa fazê-lo de forma mais fácil”, detalha Carrino.
Iván Carrino, professor de Economia na Universidade de Buenos Aires (Crédito: UM BRASIL)
Jaime Spitzcovsky e Iván Carrino (Crédito: UM BRASIL)
Carrino discute o liberalismo na Argentina, os outsiders na política e as limitações do Mercosul (Crédito: UM BRASIL)
Outsiders chegam ao poder
Caso argentino. Apenas dois anos após ser eleito deputado — o único cargo político que ocupou previamente —, Milei vence as eleições presidenciais em 2023. “Ele chega à política vindo de fora, como um economista independente, que falava nos meios de comunicação irritado com a política tradicional, mas que tinha ideias econômicas muito sólidas e claras, um homem de ideias liberais radicais”, observa o professor.
Fenômeno mundial. A tendência para os outsiders — aqueles que chegam ao poder vindos de fora da política — não é nova. Carrino avalia que as eleições de Donald Trump, nos Estados Unidos, e de Milei demonstram um giro — em nível global — na direção de ideias liberais, de direita e conservadoras, em oposição às ideias de esquerda e progressistas. “E, por outro lado, evidenciam um cansaço da política tradicional”, ressalta.
O futuro do Mercosul
Caso Carrefour. No dia 20 de novembro, o Mercosul retornou às manchetes de jornais e aos trending topics das redes sociais. O bloco econômico formado por Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai enfrenta um imbróglio envolvendo frigoríficos e a rede francesa Carrefour.
Impasse desenrola-se. Em novembro, a França foi tomada por protestos em repúdio a um possível acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul. Produtores franceses alegam risco de concorrência desleal. Na sequência, o Carrefour anunciou que suspenderia a compra de carne de países do bloco. Dias depois, emitiu um pedido de desculpas. A questão, que ainda se estende, reviveu o debate sobre um bloco que, segundo Carrino, tem tido pouca relevância no debate econômico.
Limitações do bloco. “Tendo um olhar econômico e liberal, a verdade é que o Mercosul é uma zona. Grande, com uma população importante, mas pouco relevante economicamente, porque em termos de PIB não é tão grande em relação ao resto do mundo”, avalia o professor.
Abertura comercial. De acordo com Carrino, a formação do Mercosul possibilitou que economias muito fechadas pudessem se abrir — pelo menos entre elas. Mas, atualmente, é preciso repensar a relação com o resto do mundo. “Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai ganhariam enormemente se seguissem uma agenda que hoje está na cabeça de Milei, que é a de abertura comercial, ou seja, continuar nesse caminho de reduzir tarifas de importação e travas comerciais”, conclui.
Assista ao debate na íntegra.
<p id="isPasted">O liberalismo vive um momento importante na Argentina, defende Iván Carrino, professor de Economia na Universidade de Buenos Aires. </p><p>Para o professor, as ideias liberais têm encontrado espaço no país após a eleição de Javier Milei — um <em>outsider</em> que adotou o liberalismo populista como estratégia para dialogar com uma nação marcada por uma crise macroeconômica. </p><p>Em entrevista ao canal UM BRASIL — uma realização da <a href="https://www.fecomercio.com.br/" target="_blank" rel="noopener noreferrer"><strong>Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP)</strong></a> —, em parceria com o Centro Mackenzie de Liberdade Econômica (CMLE), Carrino discute o liberalismo na Argentina, os <em>outsiders</em> na política e as limitações do Mercosul.</p><p><strong>Novo momento do liberalismo</strong></p><ul type="disc"><li><strong>Rejeição ficou para trás. </strong>Entre as décadas de 1990 e 2000, o liberalismo — ou neoliberalismo — passou a ser rechaçado pela população argentina. “Quase virou um palavrão no dicionário”, conta Carrino. Naquele momento, o mundo experimentou projetos ancorados no “socialismo do século XXI”. “Vieram os maus resultados. Muita inflação, baixo crescimento econômico, o preço do dólar subindo. A população também se cansou de tudo isso”, opina.</li><li><strong>Populismo liberal.</strong> Com uma história marcada por governos populistas, a Argentina vive agora uma espécie de populismo liberal, caminho encontrado por Milei para dialogar com o país — em especial com o empresariado, o comércio e a população empregada, explica o professor.</li><li><strong>Classe oprimida. </strong>“O populismo divide a sociedade entre os bons, porém oprimidos, e a classe dominante que os oprime”, pontua Carrino. Milei afirma que, hoje, a classe oprimida é aquela que paga impostos, que quer chegar ao seu trabalho em segurança e ganhar um salário digno. “E quem é que impede tudo isso? É o governo que gasta demais, que faz déficit fiscal, que cobra muitos impostos e gera altíssimos níveis de inflação”, completa.</li><li><strong>Liberalismo ganha espaço. </strong>As ideias liberais de Milei aparecem como solução para uma população que acaba de viver uma crise macroeconômica. Como? “Com o encolhimento do Estado, baixando o gasto público, a inflação, e eventualmente os impostos, para que o povo, que trabalha e faz comércio, possa fazê-lo de forma mais fácil”, detalha Carrino.</li></ul><p id="isPasted">[EXIBIR_GALERIA_DA_NOTICIA]</p><p><strong><em>Outsiders</em> chegam ao poder </strong></p><ul type="disc"><li><strong>Caso argentino. </strong>Apenas dois anos após ser eleito deputado — o único cargo político que ocupou previamente —, Milei vence as eleições presidenciais em 2023. “Ele chega à política vindo de fora, como um economista independente, que falava nos meios de comunicação irritado com a política tradicional, mas que tinha ideias econômicas muito sólidas e claras, um homem de ideias liberais radicais”, observa o professor.</li><li><strong>Fenômeno mundial. </strong>A tendência para os <em>outsiders</em> — aqueles que chegam ao poder vindos de fora da política — não é nova. Carrino avalia que as eleições de Donald Trump, nos Estados Unidos, e de Milei demonstram um giro — em nível global — na direção de ideias liberais, de direita e conservadoras, em oposição às ideias de esquerda e progressistas. “E, por outro lado, evidenciam um cansaço da política tradicional”, ressalta. </li></ul><p><strong>O futuro do Mercosul</strong></p><ul type="disc"><li><strong>Caso Carrefour.</strong> No dia 20 de novembro, o Mercosul retornou às manchetes de jornais e aos <em>trending topics</em> das redes sociais. O bloco econômico formado por Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai enfrenta um imbróglio envolvendo frigoríficos e a rede francesa Carrefour.</li><li><strong>Impasse desenrola-se. </strong>Em novembro, a França foi tomada por protestos em repúdio a um possível acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul. Produtores franceses alegam risco de concorrência desleal. Na sequência, o Carrefour anunciou que suspenderia a compra de carne de países do bloco. Dias depois, emitiu um pedido de desculpas. A questão, que ainda se estende, reviveu o debate sobre um bloco que, segundo Carrino, tem tido pouca relevância no debate econômico.</li><li><strong>Limitações do bloco. </strong>“Tendo um olhar econômico e liberal, a verdade é que o Mercosul é uma zona. Grande, com uma população importante, mas pouco relevante economicamente, porque em termos de PIB não é tão grande em relação ao resto do mundo”, avalia o professor.</li><li><strong>Abertura comercial. </strong>De acordo com Carrino, a formação do Mercosul possibilitou que economias muito fechadas pudessem se abrir — pelo menos entre elas. Mas, atualmente, é preciso repensar a relação com o resto do mundo. “Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai ganhariam enormemente se seguissem uma agenda que hoje está na cabeça de Milei, que é a de abertura comercial, ou seja, continuar nesse caminho de reduzir tarifas de importação e travas comerciais”, conclui. </li></ul><p>Assista ao debate na íntegra.</p><p><span contenteditable="false" draggable="true" class="fr-video fr-deletable fr-fvc fr-dvb fr-draggable fr-fvl"><iframe width="640" height="360" src="https://www.youtube.com/embed/xVd3wYjpCEI?&wmode=opaque&rel=0" frameborder="0" allowfullscreen="" class="fr-draggable"></iframe></span><br></p>