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Economia

“O Brasil não gasta pouco em educação, gasta mal”, diz Claudio Haddad

Fundador do Insper defende que políticas educacionais precisam de liderança e continuidade para serem efetivas

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“O Brasil não gasta pouco em educação, gasta mal”, diz Claudio Haddad

Entre os problemas da educação no País, Claudio Haddad cita a interrupção de políticas públicas
(Tutu)

O gasto do Brasil com educação não é insuficiente, mas tem problemas de liderança e gestão, de acordo com Claudio Haddad, fundador do Insper (escola de ensino superior que segue o modelo da universidade norte-americana de Harvard) em entrevista ao UM BRASIL.

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Para Haddad, o gasto brasileiro com educação não pode ser considerado pequeno, uma vez que o País dedica ao tema um orçamento similar a outros países do mundo - cerca de 7% do PIB (Produto Interno Bruto), segundo ele, se incluídas as aposentadorias de professores. “Não é gastar menos. É que o gasto está mal feito. Os problemas básicos são relacionados à liderança e gestão”, diz. “Os esforços não têm continuidade, não são transformados em políticas efetivas de Estado”, completa.

Segundo o fundador do Insper, o baixo capital social [educação e participação] dos brasileiros e a falta de continuidade das políticas públicas educacionais se destacam entre os impasses. “Não há continuidade: vem um secretário, faz uma política correta e o seguinte acha que tem que fazer tudo diferente”, diz. Devido ao seu baixo capital social, as famílias não cobrariam efetivamente uma educação de qualidade da sociedade.

“Foco, determinação e gestão implicam coisas básicas que são difíceis de conseguir no sistema educacional brasileiro, como ter metas, medidas, cobrança, meritocracia, incentivos para fazer com que as pessoas desempenhem algo de acordo com o que está sendo pretendido e, as que não desempenhem, sejam substituídas”, explica Haddad sobre possíveis soluções.

Ainda durante a entrevista, Claudio Haddad detalhou o funcionamento do Insper e os fatores necessários para que universidade tenha um legado. A instituição, que não possui fins lucrativos desde 2004, além da isenção de impostos, não recebe dinheiro público, mas apenas contribuições do setor privado. “Para que esse modelo se perpetue, tem que haver envolvimento da comunidade com o projeto. Em Harvard, por exemplo, muitos ex-alunos doam seu tempo ou dinheiro”, diz.

Como acontece nos Estados Unidos, Haddad defende que a existência de outras instituições de ensino superior com funcionamento semelhante incentivaria a produção e impediria o corporativismo dentro das entidades.

Haddad também defende que especialização e flexibilidade são eficientes para o aprendizado dos alunos. “A faculdade transmite valores, competências, há uma série de objetivos de aprendizagem, entre os quais está o conteúdo. [Exames como o Enade] medem o conteúdo e insumos como a quantidade de professores com mestrado ou doutorado, mas o insumo não quer dizer muito. Não mede efetivamente o que aquela instituição se propõe a dar”, afirma.

Haddad comenta ainda a situação atual do Brasil. “As reformas estão na direção correta, mas isso é sempre um processo, não é algo que será resolvido da noite para o dia”, ressalta.

A flexibilidade trabalhista é vista pelo entrevistado como essencial. “Um contrato de trabalho nada mais é que um contrato de qualquer de serviço. Claro que se uma das partes inadimplir, ela tem que sofrer punição de acordo com a lei”, explica. “Acho que essa pauta não está sendo debatida da maneira adequada. Não é que uma das partes esteja sendo mais prejudicada. É que a discussão ainda está muito superficial”.

A entrevista faz parte da série “Diálogos que Conectam”, realizada pelo UM BRASIL em parceria com a Brazil Conference – evento realizado anualmente por alunos brasileiros da Harvard University e do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos.

Confira a íntegra abaixo:

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