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Editorial

O Brasil precisa de nova estratégia de inserção global, por Marcos Troyjo

Economista observa a falta de uma estratégia brasileira de inserção no comércio internacional

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O Brasil precisa de nova estratégia de inserção global, por Marcos Troyjo

"Não fizemos acordos com grandes mercados compradores", escreve
(Arte: TUTU)

Por Marcos Troyjo

Trabalho, previdência, tributos, política. São conhecidas as reformas do tipo estrutural que o Brasil tem de adotar para harmonizar suas capacidades de competir. Falta incluir, nesse mosaico modernizador, a política externa comercial.

Durante toda a história brasileira, com exceção dos ciclos de monocultura da exportação, raramente tivemos mais que 25% do produto interno bruto (PIB) resultante da soma de importações e exportações.

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Pensemos em alguns milagres econômicos recentes. Coreia do Sul, Hong Kong, China, Chile, Espanha depois de 1982, Japão e Alemanha depois da Segunda Guerra. Que há de comum entre esses países? Alguns são asiáticos, outros, europeus. Alguns democráticos, outros têm regime político centralizado. Uma das poucas características em comum é que todos dispõem de elevado porcentual de comércio exterior nas suas economias

Se somarmos tudo o que a Coreia do Sul importa e exporta, ao longo de seu processo de ascensão, chega-se a 65% do PIB. Se olharmos para a China, perceberemos também uma fatia muito elevada do PIB ocupada pelo comércio. A Alemanha era a maior exportadora do mundo até 2009. Não é, historicamente, o caso do Brasil.

País algum nos últimos 70 anos conseguiu um upgrade sem parcela substantiva do PIB relacionada ao comércio exterior. Nada em relação a isso, apesar de todo ativismo terceiro-mundista, mudou nos governos do PT. O Brasil representa apenas 1% de tudo aquilo que o mundo importa e exporta.

Houve um ambiente macroeconômico de algum crescimento de 2003 a 2010. Entretanto, o Brasil deixou de fazer movimentos importantes nesse momento de bonança, e tal expansão teve pouco a ver com política externa. Descobrimos reservas de petróleo em águas profundas e houve aumento dos preços das commodities nas quais temos vantagens comparativas, como soja e minério de ferro.

O Brasil não construiu uma estratégia de inserção comercial internacional. Não fizemos acordos com grandes mercados compradores.

Não realizamos esforços de promoção comercial em cidades globais, como Londres, Paris e Singapura. Nem sequer nos concentramos em dar mais força à inteligência comercial. Em vez disso, fomos abrir embaixadas em uma dezena de países africanos e gastar tempo com a criação de mecanismos regionais que pouco têm a ver com a prosperidade brasileira, como a Unasul.

No Brasil, confundimos política externa, diplomacia e inserção internacional. Não são a mesma coisa. Diplomacia é atividade entre Estados, restrita a chancelarias. Para a política externa, é preciso agregar outros elementos, como é o caso o caso da política de defesa. E inserção internacional significa a sintonia fina entre atores do setor privado, governo e diplomacia para aumentar a riqueza de um determinado país.

É isso que chineses, espanhóis, chilenos e sul-coreanos conseguiram, algo que ainda não realizamos. Geralmente se fala no Brasil da importância das reformas estruturais, e isso é fundamental para o futuro do País. Nesse quadro, a reforma da política externa no campo do comércio exterior também deveria ser compreendida como estrutural.

*Marcos Troyjo é economista e cientista social, diretor do BRICLab da Universidade Columbia
Artigo publicado na revista Problemas Brasileiros, edição especial de setembro de 2018. 

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