Economia
18/04/2016O dragão da inflação está de volta
Economista Roberto Luis Troster explica como será o comportamento da inflação este ano e o que ocasionou o seu aumento
Apesar de o mercado prever uma inflação de 7% este ano, poderá ter surpresas e ficar abaixo de 6%, diz o economista Roberto Luis Troster.
(Arte/TUTU)
Há tempos o Brasil não registrava uma inflação de dois dígitos – a última vez foi em 2002 (12,53%), ano em que o petista Luís Inácio Lula da Silva ganhou as eleições presidenciais, trazendo desconfiança ao mercado e aumento do dólar. Mesmo o constante aumento das taxas de juros não conseguiu segurar a inflação. A boa notícia é que, para o economista Roberto Luis Troster, a tendência este ano é de queda. Para ele, apesar de o mercado prever uma inflação de 7% este ano, poderá ter surpresas e ficar abaixo de 6%.
Em sua opinião, como deve se comportar a inflação este ano?
Deve apresentar uma tendência de queda. No ano passado, o reajuste das tarifas e a desvalorização cambial pressionaram e fizeram a inflação subir, todavia, sem repasse integral. Houve uma pequena compressão de margens. Os reajustes de salários apresentaram ganhos reais e houve baixa rotatividade de trabalhadores. Este ano, os preços já estão praticamente realinhados e o câmbio aponta para uma estabilização; portanto, não devem pressionar os preços.
A recessão deve reprimir a demanda e o desemprego favorece para uma redução real dos preços dos serviços, bem como para dissídios sem ganhos reais e uma rotatividade maior – trabalhadores serão substituídos por outros com remunerações menores. As projeções mostram o IPCA a quase 7% no final do ano, no entanto pode haver uma surpresa positiva e fechar abaixo de 6%.
Mesmo com uma alta taxa de juros e o consumo em baixa, a inflação continua alta. Por quê?
Alguns fatores explicam. O primeiro é o déficit fiscal. Muita tinta é gasta analisando o déficit primário, que é a pressão do governo na economia sem incluir os juros, todavia, devem ser considerados ao analisar a pressão sobre os preços e já alcançam 8% do PIB.
O segundo fator são os mecanismos de transmissão da política monetária que são emperrados no Brasil. Em razão de tabelamentos de juros, o atrelamento de correções de taxas e composição de instrumentos financeiros, os juros básicos, apesar de serem os mais altos do mundo, têm um efeito fraco em reduzir a inflação. Isso foi agravado pela política monetária frouxa do primeiro mandato da presidente Dilma, que diminuiu sua credibilidade, favorecendo a alta de preços.
O terceiro fator é a indexação de preços e salários – reajustes de aluguéis e serviços em contratos, bem como outros em que a inflação passada serve como parâmetro. Com isso, os preços têm uma resistência forte para baixarem de patamar.
A indexação da economia – reajuste do salário mínimo, do aluguel, mensalidades etc. – ajuda a manter a inflação alta?
O segundo ponto é no mercado financeiro. A quase totalidade das aplicações é indexada, e a cada aumento de juros, há um ganho e não uma perda de riqueza para aplicadores, tirando potência da política monetária. A indexação teve um papel importante na época de inflação alta para proteger a moeda nacional e evitar a fuga de capitais e a desestruturação da economia. Não é mais o caso.
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