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Economia

Plano Diretor de São Paulo quer estimular revitalização das ruas comerciais

Ideia é similar ao programa de 2003, que propões parceria entre poder público e comerciantes para reforma das calçadas e melhorias como iluminação pública e sinalização visual

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Plano Diretor de São Paulo quer estimular revitalização das ruas comerciais

Entre as diretrizes da nova versão do Plano Diretor Estratégico do munícipio de São Paulo está a de qualificar as ruas comerciais da capital, trabalhando na reforma e alargamento das calçadas e melhorias como iluminação pública e sinalização visual. A ideia é estimular a integração entre a cidade e o cidadão, que cada vez mais se isola entre muros – seja nos condomínios residenciais ou nos shoppings, por exemplo. “O comércio de rua é vital para qualquer cidade”, defende a arquiteta e urbanista Eloisa Ribeiro Rodrigues, que também é pesquisadora do Laboratório de Comércio e Cidade da Universidade de São Paulo. De acordo com ela, as ruas comerciais são elementos estruturadores da paisagem da cidade e da vida urbana, fazem parte do cotidiano de todos e, por isso, têm um papel fundamental na sociabilidade da cidade. Além disso, são responsáveis também por proporcionar grande parte da função de abastecimento de bens e serviços. 
 
Eloísa comenta que, assim como em países da Europa e EUA, no Brasil os comerciantes que operam na rua devem atentar para a responsabilidade que têm na organização e melhoria de seu espaço comercial. “Esperar apenas que os governos municipais façam melhorias no espaço público e cuidem dos demais aspectos sociais é falta de visão competitiva no mercado. Melhorar seu espaço comercial, através de gestão compartilhada entre proprietários, lojistas, governo e sociedade, é dar um passo a frente em relação criar um diferencial no espaço e nos negócios”, diz. É preciso, segundo ela, ir além da revitalização do espaço físico, das fachadas das lojas, do visual da rua como um todo. Nessa linha, Eloísa destaca a criação de atividades para promover o espaço (como eventos, ações junto à comunidade como campanhas, decorações e promoções sazonais – em datas que costumam aquecer o comércio como o Natal, Dia das Mães etc) e atitudes coletivas – formando comitês ou associações da rua ou do espaço comercial. 
 
Ainda de acordo com o exemplo dos países europeus e dos Estados Unidos, lá existem organizações (públicas e privadas) criadas para organizar a ação dos proprietários e comerciantes. Nos Estados Unidos, um dos programas mais populares é o “Main Street Program” (Programa das Ruas Centrais), caracterizado pelas ruas comerciais vinculadas aos centros históricos ou subcentros tradicionais que sofreram declínio físico e econômico, em especial pela expansão dos malls (aqui conhecidos como shoppings centers). Por meio destas organizações, as ações são focadas em quatro eixos: estético, socioeconômico, mercado (eventos, empresa e promoções) e governança (com uma equipe que assuma constantemente a gestão destas ações para tornar a rua um lugar competitivo em termos de consumo, ou seja, um lugar que seja escolhido pela comunidade como destino de compras e lazer). 
 

Valorização do pedestre e revitalização dos espaços

Seguindo a ideia de transformar as ruas em destino de compras e lazer e facilitar a movimentação dos consumidores por esses locais, que costumam concentrar grandes números de pessoas ao mesmo tempo, localidades famosas ao redor do mundo fecharam as vias para os carros, deixando os espaços exclusivos para os pedestres. Um exemplo é a Times Square, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, que recebe cerca de 350 mil pedestres por dia e tem um trecho fechado permanentemente para automóveis desde 2009. 
 
Em São Paulo, a mais nova experiência desse tipo está ocorrendo na rua Santa Ifigênia, localizada na região central da cidade, famosa pela concentração de lojas que vendem eletrônicos e produtos de informática. Desde 23 de agosto, a via tem o trecho entre a Rua General Osório e a Avenida Ipiranga fechado para veículos todos os sábados, das 6h às 15h. A mudança, solicitada pela Câmara de Dirigentes Lojistas da Santa Ifigênia, visa proporcionar melhores condições de circulação e segurança a numerosa quantidade de pedestres que passam por ali, especialmente nos fins de semana. 
 
De acordo com Luiz Carlos da Silva Vieira Filho, pós-graduado em Negócios do Mercado Imobiliário pela Fundação Instituto de Administração (FIA-USP), a medida de restrição da circulação de veículos na rua Santa Ifigênia é acertada e segue uma tendência mundial de maior valorização do pedestre. “Essa medida segue a tendência, que a cada dia ganha mais força. Já é possível notar que o ‘glamour’ de possuir um automóvel diminuiu entre os jovens de hoje, que não dão mais a mesma importância ao carro como os jovens de gerações anteriores”, comenta. 
 
O comércio pode contribuir ainda para a revitalização de espaços degradados, pois naturalmente ajuda a manter a vitalidade de qualquer área onde ele se instala. “Onde existe comércio existe gente circulando e um cuidado natural dos espaços; as pessoas sentem-se seguras, pois sabem que sempre tem alguém por perto vigiando”, explica Eloísa. O comércio também promove oferta de bens e serviços, e assim, com incentivos de ocupação, boas condições do espaço público e um planejamento para garantir ocupações mistas - trabalho, moradia, escola e lazer, garantindo a circulação de maior quantidade de pessoas pelo local. 

“Uma vez que qualquer comércio se instale em algum lugar, certamente trará benefícios, como atrair mais pessoas, clientes e funcionários”, observa Vieira Filho. Com isso, as pessoas acabam se apropriando do espaço público e zelando por ele. Por sua vez, o governo deve investir em segurança, com medidas que reforcem o efetivo de policiais na região e a instalação de câmeras para monitoramento. “Isso funcionaria como o início para gerar mais segurança, mas a própria existência e funcionamento do comércio gera mais segurança. Se há gente e vida na rua, é uma situação que gera um ambiente mais seguro”, complementa. 


Além da região central 

Todas essas medidas podem ser aplicadas em ruas comerciais mais afastadas do centro da cidade, uma vez que esta dinâmica e as medidas se ajustam nas devidas proporções para qualquer parte da cidade, avaliam os especialistas consultados. São exemplos de experiências bem sucedidas fora do centro as ruas Oscar Freire, no Jardins, revitalizada em 2006, e João Cachoeira, no Itaim Bibi, reurbanizada em 2003. As duas reformas foram possíveis graças à parceria entre o poder público e a iniciativa privada (os comerciantes das duas regiões), por meio do Programa de Intervenção em Ruas Comerciais do Município de São Paulo, conforme decreto nº 42.834, de fevereiro de 2003.

A revitalização da via nos Jardins custou cerca de R$ 7 milhões e incluíram novo asfalto para a pista, recuperação das sarjetas, instalação de rampas para facilitar a circulação de cadeirantes e bolsões de estacionamento, além da substituição dos postes antigos, com fiação aérea, por novos modelos com luminárias sem fios, entre outras mudanças.  Já a João Cachoeira recebeu um investimento de cerca de R$ 2 milhões, que foram convertidos na reforma do calçamento até melhorias na iluminação. O resultado já foi sentido no ano seguinte, com aumento de 11% no volume das vendas do comércio da região. “Existindo as melhorias, o comércio dessas ruas pode competir de igual para igual com os shoppings”, destaca Vieira Filho. 

Para Eloísa, as ruas especializadas ou focadas em algum nicho estarão em partes específicas da cidade. No entanto, toda cidade precisa de ruas que ofereçam um mix genérico de varejo de bens e serviços, possibilitando que ruas comerciais locais estejam por toda a parte, diluindo as necessidades de deslocamento das pessoas. “Este é outra estratégia que qualquer governo deve ter em mente para promover uma cidade mais equilibrada”, diz. 

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