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Editorial

Rápido, por favor!

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Rápido, por favor!

O governo já admite que a economia encolherá neste ano e que a inflação ficará quase dois pontos porcentuais acima do teto de 6,5%. Reconhecer os problemas em sua real dimensão - coisa que as autoridades vinham relutando a fazer - é fundamental para resolvê-los.

Como resgatar o clima de confiança responsável pela geração de investimentos do setor produtivo? Mais ainda, como recuperar a segurança de um consumidor habituado à tomada de crédito para aquisição de bens duráveis em prol de uma melhora na qualidade de vida, mas que, hoje, recorre a empréstimos para cobrir o orçamento doméstico engolido pela alta da inflação e dos juros? Sem contar o pessimismo que assombra o mercado profissional, com a estagnação da renda e a redução dos postos de trabalho.

Talvez o estabelecimento do ajuste fiscal como prioridade seja uma das várias medidas necessárias para que esse cenário comece - a longos passos - seu processo de reversão. Mas sua extensão é muito maior.

Hoje nossas instituições enfrentam desafios imensuráveis. A dissonância entre os diversos órgãos de governo em busca de soluções demonstra claramente a necessidade de medidas administrativas que harmonizem os discursos e as ações desses órgãos, ao mesmo tempo que imponham aos porta-vozes do governo atitudes conciliatórias e equilibradas que reduzam o emaranhado de conflitos formado na sociedade brasileira - uma sociedade já sem fôlego, crescendo pelas brechas que se abrem ao menor sinal de uma possível alternativa, esteja ela no impeachment presidencial ou até mesmo, lamentavelmente, na volta do regime militar.

Ao mesmo tempo que os tentáculos da crise apreenderam a economia e a administração pública, revelaram, ainda, um conflito ético. Prova disso são os resultados das pressões sociais e do desenrolar da apuração dos atos de corrupção. De fato, a situação no Congresso não é nada favorável ao trabalho que se deveria fazer na contramão de todos os indícios que puseram em xeque a representatividade do País.

O mau uso do dinheiro público, que já havia despertado a ira de multidões em junho de 2013, voltou a impactar sobretudo as classes médias tradicionais das grandes cidades da Região Sudeste, que padecem a falta de água, a epidemia de dengue e as ameaças de apagão, além dos habituais problemas de trânsito e segurança. Só que, para além da revolta contra o governo e os corruptos, nenhuma pauta ou reivindicação concreta emergiu até agora dos protestos, marcados pelas posições mais desencontradas.

Por isso, é chegada a hora da substituição do confronto pelo entendimento entre oposição e governo, entre Executivo e Congresso, entre os poderes públicos e a sociedade. É necessária urgência na redução do tamanho do Estado, o que traria mais liberdade aos agentes econômicos e menos espaço para a corrupção. Como não vislumbrar um novo ambiente político-econômico sem levar em conta as reformas previdenciária, trabalhista e administrativa?

Quanto às questões mais imediatas, deve-se deixar a punição aos corruptos e corruptores a cargo do Poder Judiciário, que já deu mostras de sua independência e rigor. O mais doloroso será promover sem delongas os ajustes imprescindíveis nas contas públicas, para que o combate à inflação não fique apenas por conta dos juros elevados e seu perverso efeito colateral de disseminar o desemprego.

Mas não adianta chorar o leite derramado. É preciso agir. Quanto antes o tumor for extirpado, mais depressa a economia voltará ao trilho do crescimento. Para isso, é preciso pensar grande e colocar o destino do País à frente dos interesses partidários, corporativos e individuais. Virar esse jogo "ainda" é possível, mas tem de ser rápido, por favor!

Abram Szajman é presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
Artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 06/5/2015, página B02.

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