Sustentabilidade
30/10/2025Sustentabilidade é boa para os negócios e para o planeta, diz José Goldemberg
Na prévia da COP30, o físico e presidente do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP analisa desafios e oportunidades, além de deixar um recado direto aos empresários brasileiros
“A Agenda Verde da FecomercioSP é a destilação de princípios universais em práticas possíveis. Ela mostra, de forma concreta, como cada empresa pode atuar para reduzir impactos, inovar em modelos de negócio e ganhar competitividade em um cenário em que sustentabilidade não é mais opção, mas necessidade.”
Às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a COP30, quando o Brasil ganhará protagonismo internacional nos debates climáticos, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) reforça o seu compromisso de transformar sustentabilidade em ações concretas com a Agenda Verde, orientando empresas e sindicatos na transição para um modelo econômico de baixo carbono.
Nesta entrevista, José Goldemberg — físico e presidente do Conselho de Sustentabilidade da Entidade — analisa os principais entraves da agenda climática global e como os setores do Comércio e dos Serviços podem ser agentes dessa transformação. Para o professor, o momento exige coragem, inovação e políticas públicas bem estruturadas que alinhem eficiência econômica com a responsabilidade ambiental. Acompanhe o bate-papo a seguir.
Boletim FecomercioSP — Professor, os setores do Comércio e dos Serviços não estão entre os maiores emissores de Gases de Efeito Estufa (GEE). Como o senhor enxerga o papel dessas empresas na agenda climática?
José Goldemberg — É verdade que esses setores não são os maiores emissores, mas podem (e devem) ser protagonistas em medidas de adaptação e eficiência. Políticas como o IPTU Verde permitem estimular práticas sustentáveis sem custo adicional para o Poder Público. Trata-se de uma política pública inteligente que pode ajudar cidadãos e empresas a se adaptarem melhor ao que já está acontecendo: eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes.
“Embora não seja o maior emissor, o Comércio tem papel estratégico ao impulsionar cadeias sustentáveis e práticas de consumo consciente.”
Boletim — O senhor mencionou adaptação. Há espaço para ampliar instrumentos de financiamento climático no Brasil?
Goldemberg — Sem dúvida. O problema é que os recursos existem, mas, muitas vezes, não chegam às Pequenas e Médias Empresas (PMEs) por causa da burocracia. O BNDES, por exemplo, continua voltado para grandes clientes. É preciso criar linhas específicas, com juros mais baixos e menos travas, para que empresas de menor porte tenham acesso a crédito e possam investir em eficiência energética, eletrificação de frotas e inovação. Isso seria positivo para os negócios e para o meio ambiente.
Boletim — E quanto ao mercado de seguros diante dos prejuízos bilionários de eventos climáticos?
Goldemberg — É uma frente que ainda está atrasada no Brasil. Nos Estados Unidos e na Europa, o seguro climático já é prática comum para residências e negócios. Aqui, precisamos desenvolver mecanismos semelhantes. As seguradoras têm interesse, e nós temos debatido com o setor para avançar em propostas que tragam mais segurança a empresas e cidadãos.
Boletim — Qual mensagem deixa aos empresários brasileiros neste momento pré-COP30?
Goldemberg — Sustentabilidade vai muito além de reduzir emissões de carbono. Envolve melhorar eficiência, reduzir desperdícios e apostar na economia circular e na logística reversa. Isso gera menos custo e mais ganho. Vejam o exemplo do etanol em São Paulo, que melhorou a qualidade do ar, ou da reciclagem de latinhas, que já chega a 97%. É bom para o meio ambiente e para os negócios. Por isso, a mensagem que deixo é clara: investir em sustentabilidade não é caridade, mas estratégia empresarial inteligente.
EMISSÕES DE GEE NAS ÁREAS
- Energia: no mundo, ainda é a maior área emissora, com forte dependência de combustíveis fósseis, principalmente nos transportes, inclusive no setor comercial.
- Agronegócio: responde por uma fatia relevante das emissões nacionais, especialmente metano.
- Comércio e Serviços: participação menor, mas com alto potencial de redução via eficiência, energia renovável e logística de baixo carbono.
TOP 5 GLOBAL
Evolução e estimativa de 2025 de participação porcentual nas Emissões Globais de GEE:*
