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Editorial

Antônio Ermírio de Moraes

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Antônio Ermírio de Moraes

Durante 17 anos, a crônica de Antônio Ermírio de Moras esteve presente na página 2 desta Folha aos domingos. Foram mais de 900 artigos. Como muitos dos seus leitores, acompanhei de perto suas ideias e muito aprendi com elas. Penso não errar ao dizer que nos textos publicados neste jornal ele deixou a síntese dos seus valores e do que considerava bom para o nosso país.

Os traços pessoais de Antônio Ermírio foram muito conhecidos. O que mais se destacava era o seu modo simples de ser e de viver. Era sóbrio e despojado em tudo, a começar pelo modo de vestir. Era atencioso ao tratar as pessoas. Caminhava pelas ruas de São Paulo sem maiores preocupações, rejeitando seguranças e carro blindado. Dizia: a minha segurança é Deus.

Chegava ao seu escritório às 7h, depois de passar meia hora no Hospital da Beneficência Portuguesa, que presidiu por quase 40 anos. Terminava o dia às 19h quando ia novamente ao hospital para ali administrar até as 21h.

Fazia parte da sua rotina diária passar 30 ou 40 minutos nas enfermarias do hospital para conversar e revelar seu carinho aos doentes. Aos sábados e domingos fazia o mesmo. À tarde, levava uma orquestra para animá-los.

Antônio era assim mesmo. Humilde, dedicado, humano. Nunca foi de festas e recepções, nem fazia exibicionismo pessoal. Era espartano em tudo. Guiou seu próprio carro a vida toda. E sem ostentação. Certa vez trocou uma Caravan por um Santana usado por considerá-lo mais simples e mais econômico. Gostava de entrar nas igrejas vazias. Encontrava paz na solidão. Nunca rezava para pedir; sempre para agradecer.

Esse foi o Antônio que conheci e que aprendi a admirar ao longo de 35 anos de amizade. Como empresário, a sua paixão era expandir, expandir e expandir para aumentar a produção e gerar empregos. A sua "teoria" sobre inflação era simples e objetiva. Costumava dizer: com prateleiras cheias não haverá inflação. Foi um contumaz combatente da especulação financeira, dos desperdícios do governo, do excesso de ministérios e da falta de sinceridade da maioria dos políticos.

Para ele, a missão dos empresários não deveria parar na produção e no recolhimento de impostos. Era preciso dedicar tempo e ajudar os necessitados. Assim o fez. Afirmava com frequência: para rico, não trabalho de graça, mas para pobre, faço com prazer. E fazia mesmo. Sempre no anonimato. Ninguém sabe o quanto doou para hospitais e escolas que ajudou com seu próprio dinheiro, nunca com o das empresas.

Antônio foi um grande amante da educação. Escreveu vários livros sobre o assunto, o que lhe deu um lugar na Academia Paulista de Letras. Sua menina dos olhos era o Senai. Dizia que a formação universitária é importante, mas que o Brasil precisa de técnicos de nível médio, bem formados, que dominam sua profissão e que têm amor pelo que fazem.

O Brasil perdeu um grande brasileiro. Os mais pobres perderam um carinhoso benfeitor. Os íntimos perderam um excelente amigo. A família de Antônio Ermírio de Moraes perdeu o seu maior amor. Meus pêsames a Maria Regina, sua querida esposa, e a todos os familiares.

José Pastore é presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da FecomercioSP.

Artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo em 28/8/2014, página A03.

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