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Editorial

A ameaça delta para a economia

É incerto o efeito que terá a variante no cenário econômico

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A ameaça delta para a economia

Negacionismo científico do povo norte-americano, que rejeita a vacina, tem reflexos na maior economia do mundo
(Arte: TUTU)

*Por André Sacconato

Sabemos que a variante delta do coronavírus tem um grau de transmissibilidade muito maior do que as cepas originais, além de mutações que permitem que o vírus se ligue mais facilmente às células, escapando de algumas reações imunológicas. Esta facilidade de transmissão, e a capacidade de “driblar” o sistema imunológico que preocupa os cientistas do mundo, tem causando uma explosão de casos, mesmo em países com população inteiramente vacinada, como Reino Unido e Israel. E a economia não está imune às consequências da variante.

Os Estados Unidos, principal locomotiva da economia mundial, vêm sofrendo muito com este novo cenário. Para termos uma ideia da severidade desta nova onda, aquele país apresentava, em 1º de julho, 19,7 mil casos, média móvel de sete dias e 256 óbitos. Em 25 de agosto, este número já havia saltado para 175 mil novos casos e 1.165 óbitos. Como base de comparação, o Brasil estava próximo a 25 mil casos e 700 óbitos na mesma data.

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Aquele país ainda tem um agravante: segundo o El Pais, jornal espanhol de grande impacto, nos Estados Unidos, apenas 71% dos maiores de 18 anos tomaram pelo menos uma dose, com grande heterogeneidade entre Estados: enquanto em Vermont, 87% tomaram, no Mississippi, no Wyoming e na Louisiana, as porcentagens eram de 51%, 52% e 55%, respectivamente.

O Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos revelou que mais de 99% das mortes por covid-19, em agosto, foram de pessoas que se recusaram a se vacinar. Essas pessoas também respondem por 97% das internações, as quais voltaram a passar da casa dos 100 mil após muito tempo.

Impactos para a economia

Todo este caos já começa a atingir a economia. O setor de turismo, que planejava a maior receita da história nas férias de inverno, já sente aumentar o número de cancelamentos de voos e de alojamento. A demanda por eventos também começa a diminuir, com o receio de exposição em lugares públicos fechados.

O prestigioso banco Goldman Sachs acaba de mudar a projeção do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano: no terceiro trimestre, a previsão passa de 9% para 5,5%, e para o ano de 2021, de 6,4% para 6%. O índice Purchasing Managers' Index (PMI), que serve como um termômetro da economia e das perspectivas, em agosto, ficou em 55,4 – contra os 59,9 pontos registrados em julho. Ainda assim, números acima de 50 indicam expansão e mostram a realidade da economia americana hoje: crescimento, mas em ritmo menor.

O avanço da delta também mostra a sua face na Ásia. Países que estão atrasados na vacinação, como Vietnã e Indonésia, já começara a fechar fábricas ou mesmo diminuir o número de funcionários por turnos, em decorrência do aumento de casos. Isso é extremamente preocupante para os estadunidenses, que, no decorrer da guerra comercial com a China, têm mudado sua base de suprimentos para estes países. Só o Vietnã responde por cerca de 30% do consumo de calçados originados dos Estados Unidos. Para se ter uma ideia da situação, gigantes do ramo, incluindo a Nike, publicaram carta solicitando ao governo de Joe Biden doação de vacinas para aqueles países.

Ainda não sabemos ao certo o efeito que terá a variante no cenário econômico. O negacionismo científico do povo norte-americano, que rejeita a vacina, aumenta o efeito na economia, a maior do mundo. Por outro lado, a desigualdade na aplicação de vacinas entre países, além de possibilitar novas cepas, torna o futuro ainda mais incerto, com a disseminação da variante delta em nações pobres. Em suma, ainda é possível que tenhamos novas interrupções econômicas, mas um ponto é inegável: a delta já causa estragos no mundo. A nossa torcida é que a vacinação aqui, no Brasil, avance rapidamente e minimize os efeitos das novas variantes na população, que tem um engajamento expressivo em campanhas de imunização.

*André Sacconato é economista, consultor da FecomercioSP e integrante do CEEP.
Artigo originalmente publicado no Portal Contábeis em 3 de setembro de 2021.

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