Notamos que você possui
um ad-blocker ativo!

Para acessar todo o conteúdo dessa página (imagens, infográficos, tabelas), por favor, sugerimos que desabilite o recurso.

Economia

Economia: “O Brasil está sem GPS”, afirma o especialista Marcos Troyjo

Economista defende reformas estruturais internas para criar oportunidades externas

Ajustar texto A+A-

Economia: “O Brasil está sem GPS”, afirma o especialista Marcos Troyjo

Com informações de Rachel Cardoso

Como todo empreendimento, o Brasil também demanda de um plano de negócios a longo prazo. A avaliação é do economista Marcos Troyjo, diretor do BRICLab, um centro de estudos sobre Brasil, Rússia, Índia e China (BRIC), da Universidade Columbia, em Nova York.

Para ele, falta elenco no governo para "endireitar" a economia política. “Como no futebol, não é só o esquema de jogo que conta, mas também quem são os jogadores”, diz. Nesta entrevista, concedida para a revista Conselhos, ele analisa o papel do Mercosul, o futuro dos BRICs e situa o País no cenário global, que, mesmo em dificuldade, ainda é o quinto maior destino de investimentos estrangeiros diretos.

Até que ponto a retomada do Brasil está atrelada ao mercado internacional?
Os desafios do Brasil passam necessariamente por reformas estruturais internas que o preparem às oportunidades externas. Aliás, é um problema característico do Brasil. Excluídos os ciclos exportadores de commodities, vemos que raramente o Brasil teve mais de 25% do PIB proveniente de exportações e importações. Isso quer dizer que se há crise lá fora, não deveríamos sofrer, porque somos pouco dependentes. Outro ponto é que o mercado externo segue líquido para investimentos de portfólio. Como o Brasil pratica uma das mais altas taxas de juros do mundo e, levando em conta a média das taxas de juros exercidas pelos bancos centrais dos países mais desenvolvidos, o País deveria ser uma verdadeira bomba de sucção de liquidez financeira. E, aliás, em certo sentido é, já que muitos têm vindo para cá passar um tempo ganhando os benefícios de uma Selic que está nas alturas.

O senhor quer dizer especular?
Sim. Não tenho nada contra especular, o problema é o que será feito, qual a estrutura para atrair por mais tempo esse tipo de capital. Quando se olha para investimentos estrangeiros diretos, vê-se que o Brasil ainda é o quinto maior destino desses recursos no mundo. Mesmo em ano difícil como foi 2014, o Brasil recebeu mais de US$ 60 bilhões de investimentos.

Por que isso é um problema?
Muito do que recebemos de investimento estrangeiro direto não chega aqui para fazer do País o elo de uma cadeia de produção global, porque temos regras muito fortes de controle local. É aquilo que chamo de uma “política de substituição de importações 2.0”. Nos anos de 1940 e 1950, a substituição de importações significava ter um empresário nacional fazendo a mesma coisa; hoje significa ter uma empresa no Brasil fazendo a mesma coisa. Não temos nada contra a titularidade estrangeira, mas é preciso gerar impostos e empregos aqui. Isso se faz de uma maneira muito cara como política industrial e política comercial. O investimento de portfólio, mais uma vez, não está vindo ao Brasil pela solidez da nossa economia, mas pelas altas taxas de juros. Em relação ao comércio, se é verdade que nesses últimos meses temos conseguido acumular algum superávit comercial, isso não significa que as nossas importações estão dinâmicas. Estamos importando menos. O Brasil está sem estratégia de comércio exterior.

Então estamos sem rumo? Quais seriam os caminhos para a retomada?
Estamos sem bússola, sem GPS. Isso é terrível. Às vezes, utilizamos determinados termos como se fossem sinônimos – ajuste, reforma ou correção –, mas, na realidade, esses termos querem dizer coisas muito diferentes. Precisamos de reforma e não é só na política econômica, mas também na economia política. Geralmente, fala-se como se fossem sinônimos, mas são coisas bem diferentes.

Qual é a diferença?
Política econômica é a maneira pela qual se aborda o câmbio, trata de juros e responsabilidade fiscal. Economia política é quanto do PIB vai ser direcionado por ano para pesquisa, desenvolvimento e inovação; quanto se deseja tornar do PIB meta de exportações; quanto do quociente de inovação se deseja que venha do setor privado e por aí vai. O modelo de economia política é mais importante do que questões táticas.

E como reformar a economia política?
Nenhum país do mundo reformou a sua economia e a sua sociedade sem mexer na economia política. A transformação ocorre em três níveis: tático, estrutural e estratégico. Isso demanda projetos de longo prazo. Está faltando ao Brasil o que poderíamos chamar de um plano de negócios, ou plano de nação.

Confira a entrevista completa de Marcos Troyjo, concedida à revista Conselhos.

Fechar (X)