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Sustentabilidade

Santos transforma resíduos recicláveis em crédito no comércio da cidade

Recicla + Santos tem como base a Lei Complementar n.º 952, que estabelece as regras de coleta e reciclagem no município da Baixada Santista

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Santos transforma resíduos recicláveis em crédito no comércio da cidade

Hoje, 1,2 mil moradores estão cadastrados no programa que arrecadou mais de 55 toneladas de resíduos em cinco meses
(Arte: TUTU)

Por Priscila Trindade

Os moradores de Santos, município localizado no litoral do Estado de São Paulo, têm compromisso sério com a coleta de resíduos recicláveis. Em julho do ano passado, a cidade mais populosa da Baixada Santista inaugurou o primeiro posto do Recicla + Santos para troca de papel, papelão, vidro, metais e plásticos. Na ação, os itens descartados se transformam em pontos que podem ser trocados por descontos no comércio.

O ecoponto que fica na Rua Vergueiro Steidel, na Aparecida, ao lado da saída do Shopping Praiamar, faz parte de um projeto que busca incentivar a preservação do meio ambiente. O local escolhido para abrigar a unidade em razão do fácil acesso e da visibilidade integra e reforça a Lei Complementar n.º 952, sancionada em dezembro de 2016, que estabelece as regras de reciclagem no município.

A norma segue a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e define que o munícipe deve separar os detritos sólidos antes do descarte: resíduos úmidos e não recicláveis (orgânicos) dos secos recicláveis sob risco de advertência / intimação e multa para pessoas físicas e jurídicas.

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Após a lei entrar em vigor, moradores de prédios e casas são orientados a fazer a separação em suas residências. Os orgânicos e rejeitos são coletados diariamente pela prefeitura. Os recicláveis com recolhimento municipal semanal, são destinados aos galpões das duas cooperativas que atuam na cidade, que também recebem de catadores avulsos e de caminhões. O montante coletado é vendido para indústrias, e o valor é revertido aos cooperados.

Já aos grandes geradores comerciais (aqueles que produzem diariamente mais de 200 litros ou 120 kg de resíduos sólidos), a lei prevê que contratem serviço próprio de recolhimento, transporte, separação e destinação final dos resíduos orgânicos e rejeitos, bem como aos sujeitos à logística reversa como pilhas, baterias, pneus, entre outros. Os recicláveis podem ser incluídos na coleta municipal.

A assessora técnica do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP, Cristiane Cortez, enxerga nas medidas uma maneira eficaz para reduzir a quantidade de material nos aterros sanitários e ainda gerar renda para a população. “O município acaba pagando menos por esse serviço porque a quantidade que vai para os aterros diminui, e a coleta dos recicláveis pode virar renda para parte da população”, explica.

Situação alarmante no verão
A questão na Baixada Santista preocupa as autoridades. Um diagnóstico feito pelo Observatório Litoral Sustentável em 2016 constatou que 13 municípios da Baixada Santista e do Litoral Norte (Bertioga, Guarujá, Santos, Cubatão, São Vicente, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe, São Sebastião, Ilhabela, Caraguatatuba e Ubatuba) chegam a gerar até 4 mil toneladas de resíduos sólidos domiciliares a mais por dia na alta temporada. O número é quatro vezes maior do que a média nacional.

Outro fato importante é que o aterro sanitário Sítio das Neves, na Área Continental de Santos, está perto do limite de capacidade. Ele recebe material de sete cidades da região e, em decorrência da sobrecarga, deve ser fechado nos próximos anos. Além de a região não ter espaços disponíveis para a instalação de aterros sanitários, a PNRS estabelece que apenas os rejeitos (substâncias sólidas que não possuem tratamento ou recuperação por processo tecnológico disponível e economicamente viável) devam ser destinados para esses locais.

De acordo com o levantamento do Observatório, os itens descartados nos municípios da Baixada Santista e do litoral norte são compostos, em média, por 60% de orgânicos, 31% de secos (recicláveis) e 9% de rejeitos. O estudo aponta também que 80% de tudo que é jogado fora na região do litoral paulista poderiam ser recuperados, mas acabam tendo um destino incorreto. E é justamente por isso que medidas que endossam a lei complementar terão impacto positivo na redução dos danos ao meio ambiente.

A ideia do Recicla + Santos de transformar resíduo reciclável em crédito no comércio local já rendeu bons resultados. Em apenas cinco meses, foram arrecadadas mais de 55 toneladas de resíduos. Todo esse material deixou de ser descartado no aterro sanitário.

Como funciona
Para participar do programa, o morador deve se cadastrar usando o próprio CPF no site do projeto ou no ecoponto. Depois, ele leva o material até a unidade, onde é pesado e transformado em pontos. Cada tipo de resíduo gera uma pontuação de acordo com o seu valor de mercado e impacto ambiental. Esses pontos ficam no cartão e podem ser trocados por benefícios na rede de parceiros.

Segundo o diretor de Relacionamento da 3E Engenharia, gestora do Recicla + Santos, Maurício Gonçalves, a empresa estava em contato com a Prefeitura de Santos desde 2012 na tentativa de implantar a ação na cidade. “No início do ano passado, desenhou-se o formato atual, tendo a 3E como principal financiadora da iniciativa e adesão de parceiros estratégicos como a Recimar e o Praiamar Shopping para dar sustentação à operação com a destinação correta dos resíduos”, lembra.

Hoje, 1,2 mil moradores estão cadastrados e eles podem trocar os pontos por pizzas da Florença Forneria. Já para o primeiro trimestre deste ano, Gonçalves acredita que novos parceiros poderão oferecer mais produtos e serviços aos moradores participantes do Recicla + Santos. “Estamos finalizando as negociações com uma rede de supermercados e uma de farmácia e outros restaurantes”, adianta Gonçalves.

O diretor de Relacionamento da 3E Engenharia entende que o modelo de bonificação ainda é recente no Brasil e, por isso, os estabelecimentos não veem a parceria como marketing agressivo.

A previsão para o investimento da empresa durante o primeiro ano é de R$ 450 mil, sendo que a Prefeitura não arca com nenhum custo. O lucro para a investidora no programa virá por meio dos patrocínios, apoios e das assinaturas do clube de benefícios feitas pelos comércios interessados em oferecer produtos aos clientes do Recicla + Santos.

Segundo Gonçalves, a intenção é ampliar ainda em 2018 o número de postos de coleta abertos à população. “Esperamos expandir o projeto para outras áreas da cidade, com a instalação de novos postos de coleta”, garante.

Para Cristiane Cortez, o bônus é um chamariz para disseminar um ideal mais importante. “As pessoas deveriam fazer a separação do material por entender que essa é uma necessidade vital para o meio ambiente, mas o incentivo da pontuação é uma oportunidade para os moradores se inserirem no programa e perceberem com o tempo que a ação traz benefício para toda a cidade. Assim, eles acabam incorporando o exercício à rotina”, completa.

Coleta
O que pode ser trocado no posto: papel (branco, papelão, cadernos, livros, jornais e revistas); plásticos (garrafa PET e embalagens plásticas), metal (ferro, bronze, alumínio e latas de cerveja e refrigerante), vidro (embalagens de vidro em geral e garrafa de cerveja e aguardente), óleo de cozinha e embalagens longa vida.

O que o ecoponto não recebe: papel sujo, papel plastificado, lenço de papel, guardanapo, papel higiênico, caixa de sabão em pó e caixa de ovos, lâmpadas fluorescentes, espelhos cristais, CDs, fitas K7, cabos e fios, fraldas descartáveis, espumas, tintas, esponja de aço, embalagens aluminizadas, madeiras, cerâmicas e porcelanas, tecidos e couro, pneu, isopor, óleo lubrificante, resíduos de serviço de saúde, medicamentos vencidos, e restos de construção e de alimentos.

Para mais informações, acesse www.reciclamaissantos.com.br

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