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Editorial

Avanços tecnológicos são preciso para o crescimento econômico

Avanços nessas áreas poderiam criar uma vaga de inovações e progresso material superior em quantidade e qualidade ao que se produziu no “século de ouro”

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Avanços tecnológicos são preciso para o crescimento econômico

Segundo Goldemberg, haverá crescimento econômico a longo prazo se houve avanço em áreas como engenharia genética, prevenção de doenças e entendimento do cérebro humano
(PixAbay)

José Goldemberg

Está se tomando popular entre políticos e governos a ideia que a estagnação da economia mundial se deve ao fato de que o “século de ouro” da inovação científica e tecnológica acabou. Este “século de ouro” é usualmente definido como o período de 1870 a 1970, no qual os fundamentos da era tecnológica em que vivemos foram estabelecidos.

De fato, ness e período s e verificaram grandes avanços no nosso conhecimento, que vão desde a Teoria da Evolução, de Darwin, até a descoberta das leis do eletromagnetismo, que levou à produção de eletricidade emlarga escala, e telecomunicações, incluindo rádio e televisão, com os benefícios resultantes para o bem-estar das populações. Outros avanços, na área de medicina, como vacinas e antibióticos, estenderam a vida média dos seres humanos. A descoberta e ouso do petróleo e do gás natural estão dentro desse período.

São muitos os que argumentam que em nenhum outro período de um século ao longo dos 10 mil anos da História da humanidade tantos progressos foram alcançados. Essa visão da História, porém, pode e tem sido questionada. No século anterior, de 1770 a 1870, por exemplo, houve também grandes progressos, decorrentes do desenvolvimento dos motores que usavam o carvão como combustível, os quais permitiram construir locomotivas e deram início à Revolução Industrial.

Apesar disso, os saudosistas acreditam que o “período dourado” de inovações se tenha esgotado e, em decorrência, os governos adotam hoje medidas de caráter puramente econômico para fazer revi ver o “pr ogresso”: subsídios a setores específicos, redução de impostos e políticas sociais para reduziras desigualdades, entre outras, negligenciando o apoio à ciência e tecnologia.

Algumas dessas políticas poderíam ajudar, mas não tocam no aspecto fundamental doproblema, que é tentar manter vivo o avanço da ciência e da tecnologia, que resolveu problemas no passado e poderá ajudar a resolver problemas no futuro.

Para analisar melhor a questão é preciso lembrar que não é o número de novas descobertas que garante a sua relevância. O avanço da tecnologia lembra um pouco o que acontece às vezes com a seleção natural dos seres vivos: algumas espécies são tão bem adaptadas ao meio ambiente emque vivem que deixam de “evoluir”: esse é o caso dos besouros que existiam na época do apogeu do Egito, 5 mil anos atrás, e continuam lá até hoje; ou de espécies “fósseis”de peixes que evoluíram pouco em milhões de anos.

Outros exemplos são produtos da tecnologia moderna, como os magníficos aviões DC-3, produzidos há mais de 50 anos e que ainda representam uma parte importante do tráfego aéreo mundial.

Mesmo em áreas mais sofisticadas, como a informática, isso melhoria da eficiência no uso de recursos naturais não tem tido o crédito que merece parece estar ocorrendo. A base dos avanços nessa áreafoi a “miniaturização” dos chips eletrônicos, onde estão os transistores. Em 1971 os chips produzidos pela Intel (empresa líder na área) tinham 2.300 transistores numa placa de 12 milímetros quadrados. Os chips de hoje são pouco maiores, mas têm 5 bilhões de transistores. Foi isso que permitiu a produção de computadores personalizados, telefones celulares e inúmeros outros produtos. E é por essa razão que a telefonia fixa está sendo abandonada e a comunicação via Skype é praticamente gratuita e revolucionou o mundo das comunicações.

Há agora indicações que essa miniaturização atingiu seus limites, o que causaumacerta depressão entre os “sacerdotes” desse setor. Essa é uma visão equivocada. O nível de sucesso foi tal que mais progressos nessa direção são realmente desnecessários, que é o que aconteceu com inúmeros seres vivos no passado.

O que parece ser a solução dos problemas do crescimento econômico no longo prazo é o avanço da tecnologia em outras áreas que não têm recebido a atenção necessária: novos materiais, inteligência artificial , robôs industriais, engenharia genética, prevenção de doenças e, mais do que tudo, entender o cérebro humano, o produto mais s ofisticado da evolução da vida na Terra. Entender como uma combinação de átomos e moléculas pode gerar um órgão tão criativocomoocérebro,capazdepossuir uma consciência e criatividade para compor sinfonias como as de Beethoven e ao mesmotempopromover o extermínio de milhões de seres humanos -, será provavelmente o avanço mais extraordinário que o Homo sapiens poderá atingir.

Avanços nessas áreas poderíam criar uma vaga de inovações e progresso material superior em quantidade e qualidade ao que se produziu no “século de ouro”. Mais ainda enfrentamos hoje um problema global, novo aqui, que é a degradação ambiental, resultante em parte do sucesso dos avanços da tecnologia do século 20. Apenas a tarefa de reduziras emissões de gases que provocam o aquecimento global (resultante da queima de combustíveis fósseis) será uma tarefa hercúlea.

Antes disso, e num plano muito mais pedestre, os avanços que estão sendo feitos na melhoriada eficiência no uso de recursos naturais é extraordinário e não tem tido o crédito e o reconhecimento que merecem.

Só para dar um exemplo, em 1950 os americanos gastavam, em média, 30% da sua renda em alimentos. No ano de 2013 essa porcentagem havia caído para 10%. Os gastos com energia também caíram, graças à melhoria da eficiência dos automóveis e outros fins, como iluminação e aquecimento, o que, aliás, explica por que o preço do barril de petróleo caiu de US$ 150 para menos de US$ 30. É que simplesmente existe petróleo demais no mundo, como também existe capacidade ociosa de aço e cimento.

Um exemplo de um país que está seguindo esse caminho é o Japão, cuja economia não está crescendo muito, mas sua população tem um nível devida elevado e continua a beneficiar-se gradualmente dos avanços da tecnologia moderna.

*José Goldemberg é presidente do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP.
Artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, em 16/05/2016.

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