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Editorial

Comércio busca alternativa ao modelo de comércio usado na última década

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Comércio busca alternativa ao modelo de comércio usado na última década

O modelo de consumo, responsável pela manutenção do crescimento da economia nesta década, esgotou-se, tragado pela maré montante da inflação e do desemprego.

Neste ano, o país deverá assistir ao fechamento de mais de um milhão de vagas. A entrada de 1,5 milhão de jovens no mercado de trabalho agravará o problema. Apenas no comércio, do começo do ano até julho, 200 mil empregos com carteira assinada foram cortados em todo o Brasil, metade dos quais na região sudeste.

Não será surpresa se a taxa de desemprego atingir os dois dígitos até dezembro e por lá ficar ao longo de todo o ano de 2016.

O Índice de Confiança do Consumidor, que marcava 110 pontos em agosto de 2014, hoje encontra-se no patamar de 84,7 pontos, o mais baixo em 15 anos. Além da ameaça de perder o emprego, o consumidor assiste a inflação corroer o poder de compra dos salários.

O teto da meta de inflação, de 6,5%, foi ultrapassado em pouco mais de meio ano, o que deve levará o Banco Central a manter a elevação dos juros, opção trágica e equivocada num cenário econômico de quase paralisia. Além disso, juros altos significam transferência de renda para os mais favorecidos, do setor produtivo para os bancos, provocando ainda mais distorções e desigualdade em nosso país.

Orçamento apertado das famílias e crédito restrito levou o varejo brasileiro a ter o seu pior primeiro semestre em 12 anos, com retração de 2,2%, segundo o IBGE. Móveis e eletrodomésticos foram os segmentos mais afetados. Na sequência, aparecem supermercados e hipermercados, indicando que o consumidor está deixando de comprar até alimentos. Calçados, vestuário e tecidos também sofreram, além do setor automotivo.

Mesmo o comércio popular não escapou da crise, com queda de até 40% nas vendas. Na rua 25 de Março e outras 16 adjacentes do centro de São Paulo, que formam uma das regiões mais procuradas do Brasil pelos consumidores, nunca foram vistas tantas faixas de "aluga-se" e "vende-se". Até recentemente, quando uma loja fechava, havia disputa para ver quem conseguia o ponto. Agora não aparece ninguém.

As datas comemorativas do Dia dos Namorados, das Mães e Páscoa decepcionaram nas vendas deste ano. O Dia dos Pais amargou uma queda de 4,5% em relação ao ano passado, segundo a FecomercioSP.

Como não podia deixar de ser, loja sem consumidores também fica sem trabalhadores. Com cerca de 13 milhões de carteiras assinadas, os comerciários são a segunda maior categoria do país, atrás só do serviço público nos três níveis. A profissão foi regulamentada no primeiro mandato da presidente Dilma, mas ainda não tem piso salarial único, válido para todo o Brasil.

Apesar dessa pujança, os comerciários ainda são vítimas da informalidade e da rotatividade. Esse último problema afeta também o empregador, pois reduz a produtividade e dificulta a prestação de serviços com qualidade.

O Sindicato dos Comerciários de São Paulo, o maior do país, que representa mais de 500 mil trabalhadores, e a FecomércioSP e seus 156 sindicatos patronais filiados estão fazendo todos os esforços para reverter a situação que prejudica empresários e milhões de trabalhadores e suas famílias.

O diálogo construtivo entre capital e trabalho é fundamental para a obtenção de um ambiente de negócios favorável à retomada dos investimentos. Mas o governo precisa fazer a sua parte, priorizando o ajuste das contas públicas em cortes de despesas, e não em um aumento da dívida pública e da carga tributária.

Abram Szajman é presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) e Ricardo Patah é presidente nacional da UGT - União Geral dos Trabalhadores e do Sindicato dos Comerciários do Estado de São Paulo.

Artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo em 28/08/2015, página A03.

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