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Editorial

Estímulo ao consumo doméstico na China é favorável ao Brasil, diz Pastore

Para o presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da FecomercioSP, o País se destaca como um destino atraente para os investidores que vêm da China

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Estímulo ao consumo doméstico na China é favorável ao Brasil, diz Pastore

Segundo Pastore, a chave para novos negócios no Brasil são as reformas previdenciária, trabalhista e tributária, a melhoria da educação, a desburocratização e a redução das interferências do Estado na economia
(PixAbay)

José Pastore

A reunião do G-20 na China ocorre num momento muito particular para o Brasil. Com a implantação do 12.0 Plano Quinquenal (2011-2015), aquele país passou a estimular fortemente o consumo doméstico. O que se pretende é a formação de uma classe média com grande poder de consumo. Para tanto, os salários estão aumentando.

A elevação dos salários começa a reduzir a atração dos investidores estrangeiros naquele país. Um estudo recente mostrou nítida reorientação daqueles investidores em direção à Indonésia, Camboja, Vietnã e Tailândia (Julian Donaubauer e Christian Dreger, The end ofcheap labor: areforeign investors leaving China?, Bonn: Institute for the Studyof Labour, julho de 2016). Muitos empresários dizem que a China está perdendo competitividade em razão da elevação dos salários, das despesas com proteção ambiental e do fortalecimento do yuan.

A redução do fluxo dos investimentos externos não significa uma debandada abrupta dos empresários estrangeiros. Vários fatores ainda os atraem na China. Cito três deles.

• O primeiro diz respeito à produtividade crescente do fator trabalho, alavancada por novas tecnologias e boa educação. Nas últimas décadas, a qualidade da força de trabalho chinesa melhorou muito. Em 2012, a matrícula na escola de nível primário ultrapassou 100%. Nas escolas secundárias e universitárias, atingiu 87% e 24%, respectivamente. Hoje, mais de 70% dos chineses entre 15 e 64 anos têm formação secundária.

• Antes de mudarem para outros países, muitas empresas estão migrando para as regiões mais afastadas de Pequim e Xangai onde os salários continuam baixos. As cidades industriais do interior da China respondem por quase 50% dos capitais estrangeiros internados no país nos últimos anos.

• Finalmente, para atenuar o impacto do aumento de salários, as empresas estrangeiras passaram a diversificar seus investimentos entre a China e outros países na Ásia, procurando explorar as vantagens comparativas de cada um deles, inclusive em matéria salarial.

Apesar de todos esses atenuantes, o aumento dos salários na China constitui séria preocupação para os investidores e uma oportunidade para os exportadores. O fato de a China estar formando a passos largos uma classe média de maior poder de consumo é de grande valia para o Brasil, que tem ali um enorme mercado consumidor para alimentos e demais commodities.Tudo indica que a China perseguirá essa política por muitas décadas. Isso significa oportunidades de longo prazo para a economia brasileira. Com isso, conseguiremos gerar empregos e renda para os nossos irmãos.

Há um fato ainda mais importante. Sabedores de suas limitações em termos de recursos naturais e de suas necessidades para atender a nova classe média, os chineses estão saindo há vários anos para outros países, onde os investimentos podem alimentar suas empresas e fortalecer os investimentos na própria China. Aqui também o Brasil se destaca como um destino atraente para os investidores que vêm da China.

Os movimentos de exportação e de estabelecimento de parcerias com investidores chineses em projetos de infraestrutura e agribusiness no Brasil promoverão a difusão de inovações e novos métodos de trabalhar, oxigenando a economia brasileira. A interface tecnológica não é nada desprezível, pois ela está por trás da tão necessária elevação da produtividade do trabalho no Brasil.

É claro que nada virá de graça e de forma automática. Temos uma enorme lição de casa a ser feita para poder exportar mais e atrair parcerias em projetos nacionais. São as reformas previdenciária, trabalhista e tributária e a melhoria da educação, além da desburocratização e da redução das interferências do Estado na atividade econômica, incluindo aqui as relações de trabalho.

*José Pastore é presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da FecomercioSP.
Artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo no dia 6 de setembro de 2016.

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