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Editorial

José Pastore: O trabalho dos idosos

Presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da FecomercioSP discute a participação do idoso no mercado a partir da reforma da Previdência

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José Pastore: O trabalho dos idosos

Para Pastore, Brasil terá que avançar no campo da simplificação das tecnologias e no treinamento de idosos (Arte: Banco de imagens)

Os países que aumentaram a idade de aposentadoria vêm enfrentando o grave desafio de garantir trabalho para os idosos. Esse será também o caso do Brasil se a reforma da Previdência Social fixar a idade mínima em 65 anos. No texto aprovado na Comissão Especial, a idade subirá ainda mais no futuro. Isso significa a necessidade de criação de milhões de empregos para acomodar número crescente de idosos no mercado de trabalho, pois a vida média das pessoas continuará aumentando de forma acelerada.

Segundo estimativas dos demógrafos, a criança que nasce nos dias de hoje nos países avançados tem 50% de chance de viver além dos 105 anos. Cinquenta por cento dos jovens que têm 30 anos chegarão aos 100 anos. É a força da longevidade. O grupo que mais cresce nos dias atuais é o que tem mais de 85 anos de idade (Lynda Gratton e Andrew Scott, The lOOyear life, Londres: BloosburyPublisher,2016).

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A pergunta que os demógrafos colocam é dura, mas real: o que acontecerá com as pessoas se a sua poupança acabar antes da sua morte? É claro que nenhum sistema previdenciário terá capacidade de manter esses idosos aposentados, sem trabalhar. Eles terão de trabalhar. E o que vão fazer? O primeiro desafio é garantir empregos para essas pessoas. O segundo é dar a elas habilidades para trabalhar com as tecnologias do trabalho moderno.

Para enfrentar o primeiro desafio, os países avançados criaram há muito tempo formas de trabalhar, como é o caso do trabalho intermitente, tempo parcial, terceirizado, autônomo, teletrabalho e outros. Como é impossível acomodar todos os idosos em trabalhos em tempo integral, eles trabalham nas formas acima indicadas. Dessa maneira evita-se uma avalanche de idosos desempregados ou aposentados.

O segundo desafio se refere ao domínio das novas tecnologias do mundo digital. Até pouco tempo, o maior impacto da automação se dava na indústria pela substituição dos trabalhadores por robôs nas tarefas repetitivas. Hoje, as tecnologias dominam todos os setores e afetam as pessoas e a própria sobrevivência das empresas. Nesse novo mundo, os idosos estão sendo demandados a fazer o que não aprenderam na juventude. Não há outra saída: vida mais longa requer não apenas mais dinheiro, mas também flexibilidade para dominar novos conceitos e novas maneiras de trabalhar.

As tecnologias modernas vêm sendo simplificadas para facilitar a aprendizagem dos mais velhos. Reportagem recente da Revista Economist mostrou que 25% dos motoristas de Uber nos Estados Unidos têm mais de 55 anos e a população dá preferência a eles. Para dirigir veículos, eles tiveram de aprender a lidar com aplicativos do mundo digital. O mesmo ocorre em várias outras atividades. Na Suécia, na Holanda, nalnglaterra, nos Estados Unidos, na França, na Alemanha, na Espanha, na Itália e na Grécia crescem a cada dia os cursos de treinamento em tablets para idosos. A aprendizagem tem sido surpreendente. Com isso, eles vão se capacitando para trabalhar no mundo tecnológico. Ao dominar o mundo digital, os idosos têm mais chance de trabalhar nessas atividades (The Economist, The new old, the economics oflongevity, 8/7/2017).

O Brasil deu importantes passos no campo das novas formas de contratação com a aprovação da Lei 13.467/2017, que instituiu a reforma trabalhista — trabalho intermitente, tempo parcial, teletrabalho, autônomo, terceirizado etc. Falta agora avançar no campo da simplificação das tecnologias e do treinamento dos idosos. Isso será essencial para se enfrentar os desafios da longevidade, para equilibrar as finanças públicas e para garantir condições ao crescimento econômico e à geração de empregos — para jovens e para idosos.

* José Pastore é Presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da FecomercioSP
 Artigo originalmente publicado no jornal Correio Braziliense no dia 04 de agosto de 2017

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