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Economia

Jovens brasileiros assumem protagonismo político

Engajamento desde as manifestações de 2013 nas grandes capitais brasileiras é crescente

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Jovens brasileiros assumem protagonismo político

Segundoo cientista político Humberto Dantas, membro do Conselho de Economia, Sociologia e Política da FecomercioSP, as instituições tradicionais ainda não sabem como lidar com esse perfil de jovem
(Foto: Anderson Barbosa/Fotoarena-Folhapress)

Com informações de Iracy Paulina

Durante as chamadas “jornadas de junho de 2013”, jovens de diferentes posições políticas engrossaram as manifestações que tomaram conta das ruas das principais capitais brasileiras. Desde então o ativismo da juventude brasileira vem crescendo.

Além de utilizarem as redes sociais, eles colocam a mão na massa em atividades, em busca de entendimento sobre como funcionam as instituições e como mudá-las.

A família de Sophia Noronha, 18 anos, moradora da capital paulista, sempre foi ligada em política por causa de seu avô materno. “Ele foi prefeito na cidadezinha onde minha mãe nasceu, numa época em que praticamente não se recebia salário fazendo política”, conta a estudante de Administração Pública na Fundação Getulio Vargas (FGV). Ela começou fazendo trabalho voluntário em albergues de moradores de rua e com alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Depois engrossou as manifestações de rua de grupos de esquerda.  “Passei a ser mais ativa politicamente depois das passeatas de 2013.”

Segundo o professor Marcelo Kunrath Silva, do Departamento de Sociologia e Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que desenvolve pesquisa sobre o tema, as jornadas de junho de 2013 foram um marco na história brasileira recente, mesmo que muitos argumentem que elas não deram em nada, já que pouco influenciaram as eleições do ano seguinte. “As manifestações de 2013 produziram uma ruptura na dinâmica da política brasileira.”

Kunrath explica que o protagonismo, antes monopólio de organizações sociais e políticas, também passou a ser exercido por indivíduos e grupos articulados pelas redes sociais que atuavam nas várias fases dos protestos. “Foi ali que se fortaleceu uma geração de ativistas que, mais tarde, liderou as manifestações pró-impeachment, como o movimento Vem Pra Rua e o Brasil Livre”, argumenta.

Pluralidade

Também se fortaleceu a pluralidade. Ganharam força movimentos feministas, contra a homofobia, contra o racismo e pela melhoria da educação. Sophia, por exemplo, encontrou o seu motivo de contestação em 2014. Ela estava no último ano do Ensino Médio no Colégio Santa Cruz, uma das escolas particulares de primeira linha da capital paulista, quando começou o movimento de ocupação das escolas públicas do Estado de São Paulo, promovido pelos estudantes que reivindicavam o projeto de reestruturação da rede estadual.

A experiência levou a jovem a produzir o documentário “Por que você quer fechar a minha escola?”. Ela entende que pode fazer pouco porque acredita que não há espaço quando o assunto é escola pública. “Mas posso causar impacto fazendo com que as vozes que ouço sejam cada vez mais ouvidas.”

Na linha de frente

Esse movimento dos jovens foi captado por um estudo recente intitulado “Sonho Brasileiro da Política”, promovido em 2014 pela Box1824, uma empresa de pesquisa paulistana que mapeia tendências socioculturais.

O levantamento foi feito com 1.428 jovens de 18 a 24 anos e verificou que 91% dos entrevistados ficaram sabendo das manifestações de 2013 e 18% engrossaram as passeatas nas ruas (um contingente de 6,5 milhões de jovens).

Há uma parcela que não se interessa pela questão, que foi batizada de “alheios” e representa 39% dos pesquisados. Os outros 61% se interessam por política, em diferentes graus.

De acordo com os pesquisadores, essa segunda parcela pode ser subdividida em três grupos: os “à deriva” (17%), que não sabem como agir e esperam orientação; os “críticos” (28%), cujo principal canal de manifestação é a internet e os que colocam a mão na massa (16%). Esta última categoria comporta ainda dois blocos: os agentes, que atuam pelas vias tradicionais, como ONGs e partidos políticos e os hackers, que procuram entender como a política funciona para construir ações que possam modificá-la (a analogia com os hackers da internet se dá na busca de fragilidades do sistema como território de ação).

Entre os 16% que colocam a mão na massa está o coletivo Bancada Ativista, de São Paulo. Composto por aproximadamente 30 militantes, o grupo entende que, no atual contexto de crise no País, a solução envolve ocupar os espaços da política institucional com pessoas comprometidas com transformações justas e democráticas.

O coletivo elaborou uma agenda comum e três objetivos. O primeiro era atrair votos para candidatos em concordância com as práticas e os princípios defendidos pelo movimento. O segundo ponto foca na construção de relações de cooperação e aprendizagem com os candidatos. Por último, o grupo pretende gerar conhecimentos que possam ajudar outros interessados.

Um jeito novo de atuar

Por trás de iniciativas como essa está uma geração muito peculiar de jovens. “Eles são extremamente idealistas, desafiam quem acreditam estar errado, não respeitam hierarquia e apostam na construção em conjunto, em relações horizontais, no diálogo”, afirma o cientista político Humberto Dantas, membro do Conselho de Economia, Sociologia e Política da FecomercioSP. Segundo ele, as instituições tradicionais ainda não sabem como lidar com esse perfil. Dantas fala com a propriedade de quem desenvolve um trabalho de educação política voltada para jovens em escolas públicas e projetos sociais.

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