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Sustentabilidade

Logística reversa de pneus usados evita descarte irregular no meio ambiente

Entidade criada pela indústria brasileira já coletou e destinou corretamente mais de 3,5 milhões de toneladas de pneus

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Logística reversa de pneus usados evita descarte irregular no meio ambiente

100% do pneu usado - composto basicamente por borracha, aço e nylon - pode ser reaproveitado de várias maneiras
(Arte/TUTU)

Por Jamille Niero 

Por meio da resolução Conama 416, de 2009, a legislação vigente no País torna obrigatória a destinação ambientalmente adequada aos pneus inservíveis (aqueles que apresentam danos irreparáveis em sua estrutura, não se prestando mais à rodagem ou à reforma). É vedada a disposição final no meio ambiente, tais como o abandono ou lançamento em corpos de água, terrenos baldios ou alagadiços, aterros sanitários e a queima a céu aberto. A norma exige que os pneus sejam descaracterizados de sua forma inicial, e que seus elementos constituintes sejam reaproveitados, reciclados ou processados de outras formas admitidas pelos órgãos ambientais competentes, visando evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança, e minimizar os impactos ambientais adversos. A regra vale para todos os tipos de pneus – dos usados em carros de passeio até os empregados em aviões.

Como os fabricantes e os importadores ficam obrigados a coletar e enviar para descarte adequado cada unidade sem uso, foi criada, em 2004, a Reciclanip, iniciativa da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP), para cuidar dessa tarefa. A entidade sem fins lucrativos, mantida exclusivamente por indústrias nacionais, já coletou e destinou, desde a sua criação, mais de 3,5 milhões de toneladas de pneus. Somente no primeiro semestre de 2016 foram mais de 229,3 mil toneladas – o equivalente a 45,86 milhões de unidades de pneus de carros de passeio. Já a produção nacional somou, nos primeiros seis meses do ano, 33,57 milhões de unidades novas.

Segundo a Reciclanip, até o final de 2016 os fabricantes nacionais devem investir R$ 114,8 milhões só na reciclagem. Para a assessora do Conselho de Sustentabilidade da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Cristiane Cortez, esse tipo de medida é importante porque evita o descarte irresponsável no meio ambiente. “Essa atitude gera transtornos, porque é um material que não se decompõe. Além disso, no Brasil existe o problema do acúmulo de água e a proliferação de mosquitos, como os que transmitem a dengue, zica e febre chikungunya”, aponta.

Para ela, poderia haver mais empenho na conscientização da população ao trocar os pneus, deixar os usados no próprio estabelecimento que realizou o serviço e optar por estabelecimento participante de um sistema de logística reversa ou que leve os pneus usados a pontos de coleta credenciados pelo sistema. “A responsabilidade é compartilhada por todos: quem compra, quem vende, quem troca, quem produz, quem importa. Infelizmente, percebemos a falta do engajamento, porque ainda vemos muitos pneus jogados por aí”, observa Cristiane.

Reaproveitamento total
De formas variadas, 100% do pneu usado, composto basicamente por três materiais diferentes: borracha, aço e nylon, pode ser reaproveitado. E é na separação desses materiais que consistem as operações da Usina de Tratamento de Pneus (UTEP), empresa especializada em triturar, reciclar e dar destinação final aos resíduos de borracha e de pneus que não podem mais ser usados. O diretor da empresa, Oscar Souza, conta que, na primeira etapa, as máquinas trituram todas as peças até chegar num formato chamado de “chip”, que são pedaços com tamanho médio de duas polegadas (cerca de 5 centímetros). Parte deles é comercializada para a indústria que produz cimento, que os queima em fornos específicos (com tratamento adequado que impede a poluição do ar), substituindo combustíveis fósseis.

A parte restante vai para outras máquinas trituradoras, nas quais são separados o nylon (que também pode ser usado no abastecimento de fornalhas ou na indústria do papelão), o aço (que vai para a indústria siderúrgica) e a borracha. Essa última pode ser triturada outras vezes até ficar granulada ou virar pó. Dependendo da espessura, pode ser usada das mais diversas formas: como matéria-prima na produção de tapetes automotivos, asfalto ou pistas de atletismo, entre outros.

Segundo Souza, a usina, instalada em Guarulhos (SP), processa em média 50 toneladas de materiais descartados por dia (entre pneus usados e outros resíduos de borracha). “Dessa quantidade, 80% são transformados em chip e vão para reaproveitamento em fornos da indústria, e os outros 20% viram granulado”, explica. Ele conta ainda que o material coletado ou entregue por empresas clientes aguarda de um a dois dias para ser triturado, ficando pouco tempo estocado. Para evitar a proliferação de mosquitos, a empresa é monitorada pela prefeitura, que envia uma equipe para visitas a cada 15 dias (ou toda semana, em períodos chuvosos), e aplica um produto químico (larvicida) para evitar que as larvas se desenvolvam.

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