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Economia

Setor público precisa formar bons líderes, diz reitora da Escola de Governo Blavatinik, da Universidade de Oxford

Para Ngaire Woods, a dificuldade é conseguir atrair o interesse de pessoas inteligentes, brilhantes e empreendedoras, que não acham que podem fazer a diferença trabalhando no governo

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Setor público precisa formar bons líderes, diz reitora da Escola de Governo Blavatinik, da Universidade de Oxford

O setor público precisa de bons líderes, que por sua vez necessitam de três habilidades essenciais para cumprir bem seu papel: visão altruísta do que estão realizando, competência e passar a confiança de que agem sempre com imparcialidade e justiça. A análise é de Ngaire Woods, reitora da Escola de Governo Blavatinik, da Universidade de Oxford, em entrevista para o canal UM BRASIL conduzida por Patrícia Tavares, Lemann Fellow na mesma instituição. O material é uma parceria com a Fundação Lemann.

Sobre liderança política, Ngaire aponta que o dever dos líderes é composto de basicamente duas missões. A primeira é ajudar uma comunidade ou um grupo de pessoas a descobrir seu propósito e qual meta querem alcançar. Em seguida, mobilizar os recursos do grupo para atingir aquela meta. “Não estamos procurando anjos para serem líderes políticos, mas precisamos encontrar pessoas, testar candidatos e nos perguntarmos se eles têm essas três qualidades, porque são necessárias para a liderança”, observa. 

Escola de governo
A reitora comenta que é surpreendente que o mundo tenha tantas escolas de administração e de empreendedorismo social, além de lugares nos quais é possível os profissionais aprenderem e se especializarem, mas não para trabalhar no governo. “É muito importante que existam lugares no mundo que encarem esse desafio frontalmente”, considera. Segundo ela, as escolas de governo nasceram para questionar quais problemas governamentais precisam ser estudados, ensinar as pessoas a tratarem deles e envolver o setor privado e os governos para encontrarem soluções de forma colaborativa. 

O problema, porém, é conseguir atrair o interesse de pessoas inteligentes, brilhantes e empreendedoras que desejem atuar no setor público. “Um dos motivos para essas pessoas não entrarem no governo é porque não acham que poderão fazer a diferença ali, pensam que serão podadas ou que as partes mais interessantes do trabalho possam ser terceirizadas”, explica. O segundo motivo é que muitos governos trabalham com cargos comissionados. Muitos desanimam ao imaginar que nunca serão promovidos pelo seu mérito, mas apenas como um fator político. Além disso, os chefes podem ser bons ou não, e ainda estarem ali somente por indicação ou devido a algum favor. 

Decepção
Ngaire comentou ainda sobre a sensação de muitos cidadãos ao redor do mundo, de que os governos os estão decepcionando. Na sua visão, governar é muito difícil, já que suas tarefas envolvem dilemas desconfortáveis - como ter que optar por investir mais em remédios para bebês doentes ou para idosos morrendo. Para muitos trabalhadores, parece que todos os benefícios da globalização são direcionados a um pequeno grupo no topo, que fica cada vez mais rico, e que não tem as responsabilidades das pessoas normais. 

É um pouco do que ocorre no Brasil, que, para ela, possui uma democracia muito jovem e passa por um momento no qual suas instituições estão sendo testadas. “É impressionante que estejam sobrevivendo e estejam resistindo. Estou certa que não aparenta ser assim para os brasileiros, mas elas estão funcionando, sendo testadas até seu limite, e o Brasil vai sair disso com força.” 

Brexit e Donald Trump
Ela analisou ainda o referendo que optou pela saída do Reino Unido da União Europeia. De acordo com Ngaire, o corte dos gastos do governo com a crise financeira de 2008 refletiu na qualidade de vida da população, que por sua vez culpou os imigrantes. A opção pela saída foi uma forma encontrada por eles de frear essa imigração, mas que pode resultar em perda de empregos – já que existe a sinalização de muitas empresas estrangeiras que ali estão direcionarem seus investimentos para outros países europeus. 

Em relação a Donald Trump, ela aponta que ele é o primeiro candidato a presidente dos Estados Unidos que está conscientemente se levantando contra as três bases da democracia estadunidense: a representação eleitoral, o estado de direito aplicado a todos e a proteção às minorias. “Não tem a ver com ideologia, mas com um político imprudente que não parece pensar em quais são essas bases. Ele age por impulso e diz o que vier à cabeça.”

Veja a entrevista na íntegra abaixo:

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