Economia
23/01/2019Governo Bolsonaro põe em risco capital político ao retardar Reforma da Previdência
Professor de Direito da USP e da FGV, José Eduardo Faria avalia que lentidão favorece brechas na proposta e desperdiça período favorável de início de mandato

José Eduardo Faria avalia que governo está atrasado em relação à apresentação da Reforma da Previdência e do projeto de poder para os próximos quatro anos
(Foto: Christian Parente)
Passados mais de 15 dias desde que assumiu o posto máximo do Executivo, o presidente da República, Jair Bolsonaro, ainda não deixou claro qual é o seu projeto de poder, o que coloca em risco a aprovação do que é considerado o principal projeto para equacionar as contas públicas e para a longevidade de seu mandato: a Reforma da Previdência. A afirmação é do professor titular do Departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Getulio Vargas (FGV), José Eduardo Faria, em entrevista ao UM BRASIL em parceria com o InfoMoney.
“Lula e Fernando Henrique Cardoso tinham projeto de poder com 15 dias de mandato”, comenta Faria. “Nesse governo atual, o único núcleo que de fato avançou foi o do superministro da Economia, Paulo Guedes, que, mesmo assim, ainda não apresentou a Reforma da Previdência. Quando o governo assume que há um plano ‘B’ sem apresentar o ‘A’, tudo indica que não há um projeto pronto”, completa, citando o discurso de posse do ministro Guedes de que o governo trabalha com duas alternativas sobre a questão previdenciária.
Veja também
“Tempo para fazer Reforma da Previdência de natureza preventiva está acabando”, afirma Marcelo Caetano
Sistema tributário brasileiro precisa de novo modelo e transição gradual, diz Bernard Appy
Brasil sofre de “anemia” de produtividade e “obesidade” do setor público, diz Otaviano Canuto
Doutor em Direito pela USP e pós-doutor pela Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, Faria avalia que a morosidade para apresentar a proposta de reforma faz com que o governo se desgaste para ter que conter eventuais brechas – como a reivindicação de militares para que seus benefícios não sejam modificados.
“Há uma espécie de graça que o Legislativo concede nos primeiros seis meses de mandato. Com Macron [Emmanuel, presidente da França] e Macri [Mauricio, presidente da Argentina] foi assim. Então, é preciso ter os projetos, porque, num primeiro momento, percebe-se que o parlamento aprovaria a reforma. O governo está atrasado e derretendo o seu capital político”, assevera.
De acordo com Faria, a escolha de Sergio Moro para o Ministério da Justiça e Segurança Pública trouxe legitimidade e respeitabilidade ao governo Bolsonaro. Contudo, critica outros nomes os quais considera inexperientes “sobre o funcionamento de Brasília”, como o ministro da Educação, Gustavo Vélez Rodrigues, ou de pouco destaque no Congresso Nacional para ficar na linha de frente da articulação política, como o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.
Para o professor da USP e da FGV, Jair Bolsonaro chegou à presidência como um outsider da política tradicional, pois, enquanto foi deputado federal, manteve uma postura antissistema. De todo modo, o presidente não está livre das pressões da sociedade, do mercado e da política.
“À medida que o tempo passa, percebe-se que o governo pode corroer o seu capital político. Se fracassar na Reforma da Previdência, teremos um regime enrijecido, e vamos olhar para o calendário eleitoral”, frisa.
Confira a entrevista na íntegra a seguir:
Ao mencionar esta notícia, por favor referencie a mesma através desse link:
www.fecomercio.com.br/um-brasil/materias/governo-bolsonaro-poe-em-risco-capital-politico-ao-retardar-reforma-da-previdencia
Notícias relacionadas
-
Mercado
IPCA desacelera em maio e abre espaço para a manutenção da Selic
Alta de 0,26% no índice oficial de inflação foi menor que a esperada e reflete alívio nos preços de alimentos e serviços
-
Brasil
Apesar de haver espaço para manter Selic no mesmo patamar, COPOM priorizou atuação robusta sobre inflação
Inteligência ArtificialFederação exibe posicionamento quanto ao Marco Civil da IA
Modernização do EstadoModernização do Estado é necessária para melhorar a qualidade dos serviços públicos
Recomendadas para você
-
Modernização do Estado
Abertura comercial do Brasil elevaria PIB e estimularia investimentos
País pode ampliar participação no comércio mundial; Federação lança agenda com propostas
-
Internacional
Microempresas e MEIs aquecem importações da Ásia, com crescimento de 160% em 5 anos
Marketplaces internacionais facilitam acesso a produtos da região
-
Modernização do Estado
Reforma Administrativa é o caminho para modernizar o Estado
Priorizar a eficiência da máquina pública e a melhoria na qualidade dos serviços públicos deve ser o foco
-
Modernização do Estado
Reforma Administrativa buscar eficiência do serviço público
FecomercioSP, que elaborou parte das propostas em debate, vai participar das discussões na Câmara dos Deputados