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12/04/2019Oportunidades para o desenvolvimento do Brasil estão na Ásia, diz Rubens Ricupero
Diretor da Faap e ex-embaixador defende que País invista cada vez mais em relações econômicas, comerciais e tecnológicas com os países asiáticos
Diplomacia brasileira se destaca por uma vocação “construtiva de moderação e equilíbrio", avalia Ricupero
(Crédito: Christian Parente)
Assim como os demais países da América Latina, o Brasil não conseguiu crescer suficiente e ininterruptamente durante 30 anos, tempo necessário para estreitar a distância que o separa das nações desenvolvidas. Agora, o mundo passa por um movimento em que as oportunidades de desenvolvimento, até pouco tempo concentradas às margens do Atlântico (Estados Unidos e Europa Ocidental), derivam para o Pacífico, e, por isso, o País deve direcionar suas relações comerciais e tecnológicas para a Ásia, de acordo com o diretor da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), diplomata aposentado, ex-embaixador em Washington e ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente, Rubens Ricupero.
Em entrevista ao UM BRASIL, Ricupero diz que a política externa brasileira deve “auscultar o que vai pelo mundo, saber captar quais são as tendências, para onde vai o mundo e, em seguida, adaptar o País a essas tendências”. Nesse sentido, ele destaca que a China, a qual chama de “estrela do futuro”, segue os passos de outras nações asiáticas – Japão, Hong-Kong, Coreia do Sul, Singapura, Malásia e Tailândia.
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“A posição brasileira deve ser de buscar o seu desenvolvimento aproveitando as oportunidades criadas por esse movimento da história, que é um movimento que nós não podemos deter ainda que quiséssemos. É um movimento em que nós pouca influência temos. Então, qual é o caminho? Temos que investir cada vez mais e procurar ter relações econômicas, comerciais e tecnológicas com os países asiáticos”, afirma o ex-embaixador.
Ricupero comenta que, no século passado, a agenda internacional brasileira foi bastante pautada pela norte-americana, inclusive tendo o Brasil, muitas vezes, assumido uma postura “política de alinhamento automático” com os Estados Unidos. Hoje, ele diz que o País precisa ter precaução ao se aproximar da maior potência da América como fez ao longo do século 20.
“Os dirigentes da época [da Guerra Fria] consideravam que a agenda internacional americana e a agenda internacional brasileira coincidiam, porque o inimigo era o mesmo, o comunismo internacional. Hoje, não. Hoje, a agenda internacional americana tem pouquíssimos pontos de contato com a agenda brasileira”, avalia. “Qual é a agenda americana nesse momento? Primeiro ponto: contenção da China. Se possível, evitar que a China se torne a maior superpotência tecnológica do mundo, porque os chineses têm esse propósito. Por que o Brasil conteria a China? O Brasil tem na China o seu principal mercado. O Brasil vende para a China mais de 25% das suas exportações”, complementa.
De acordo com Ricupero, outras questões internacionais as quais um eventual alinhamento com os Estados Unidos prejudicaria o Brasil envolvem o Irã – país responsável por 7% das exportações de carne brasileira – e uma desavença sem sentido com a Rússia.
“Que interesse o Brasil teria em ter qualquer tipo de confronto com a Rússia?”, questiona o diretor da Faap. “O que eu quero dizer é que as nossas agendas interna e externa não coincidem com a americana, por isso é um equívoco ver nos Estados Unidos o país que deve nos liderar”, assegura.
Ex-embaixador em Genebra, Washington e Roma, Ricupero argumenta que a diplomacia brasileira sempre se destacou por uma vocação “construtiva de moderação e equilíbrio, sem comprar brigas que não são nossas”. Ele ainda lembra que, caso não haja nenhum conflito armado com a Venezuela, o Brasil completará 150 anos de paz com seus vizinhos em 2020, tendo o último conflito internacional sido a Guerra do Paraguai.
“Você pode dizer até que em parte é uma ideologia, é verdade, mas é melhor ter uma ideologia positiva do que se imaginar um povo belicoso, conquistador, militarmente forte. Não é essa a nossa tradição. A nossa tradição é uma em que a glória está muito mais na diplomacia do que na guerra”, pontua.
Confira a entrevista na íntegra a seguir:
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