Negócios
29/12/2025“As expectativas do Natal foram atendidas apenas parcialmente”, aponta Ivo Dall’Acqua
Presidente em exercício da FecomercioSP traça, na GloboNews, o balanço preliminar das vendas do Natal e projeta a economia para o início de 2026
Um movimento intenso nas lojas, filas nos caixas e corredores abarrotados marcaram o final de dezembro, mas a sensação entre os comerciantes após o Natal é de que as expectativas foram apenas parcialmente atendidas. A avaliação é de Ivo Dall’Acqua Júnior, presidente em exercício da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), em entrevista à GloboNews.
De acordo com dr. Ivo, houve mais dinheiro circulando em comparação a dezembro de 2024, porém com um crescimento proporcional menor. "Atendeu em parte. O movimento foi bom, existe mais dinheiro circulando, só que a gente sente uma desaceleração", afirmou. Ele traçou um panorama de retração gradual: após uma forte recuperação pós-pandemia que se estendeu até 2023, 2024 registrou queda frente ao ano anterior e a tendência para 2025 é de uma nova e leve retração.
É possível observar essa desaceleração nos dados referentes às vendas do comércio varejista paulista, que apresentaram números expressivos no faturamento, mas retração no crescimento. Os cálculos da FecomercioSP indicam que o varejo paulista terá um faturamento de R$ 149,7 bilhões no Natal deste ano (crescimento de cerca de 4% em detrimento a dezembro de 2024) — o que representaria a maior receita para um único mês dentro da série da histórica, iniciada em janeiro de 2008. Entretanto, esse desempenho representará uma desaceleração em relação a dezembro do ano passado, quando as receitas subiram 7,3% em relação a 2023.
Esse fenômeno aconteceu também nas vendas da Black Friday em São Paulo, que cresceram 10% em 2024 e apenas 3% neste ano.
Consumidor mais cauteloso
Um dos fenômenos observados, segundo pesquisa da FecomercioSP, é que, mesmo com uma renda um pouco maior nas mãos da população, o valor médio gasto por presente (ticket médio) diminuiu. As pessoas estão optando por gastar menos por item.
"Diria que é uma adequação", analisou o presidente. "Na verdade, houve um momento em que todo mundo se acelerou muito em bens de consumo duráveis. Isso já estava disponível para quase todo mundo. Então as pessoas estão repondo". Ele destacou a queda nos preços de eletrônicos e até de alimentos, que tornou a cesta de Natal mais acessível este ano. "O consumidor está mais cauteloso", completou.
Compromissos de início de ano
Dr. Ivo projeta que o início de 2026 terá uma injeção de cerca de R$ 30 bilhões no mercado devido à redução de alíquotas do Imposto de Renda, que isenta salários até R$ 5 mil e beneficia a segunda faixa. No entanto, ele alerta que janeiro é tradicionalmente um mês de fortes despesas fixas para as famílias, como o IPVA, o IPTU e a rematrícula escolar.
Crédito caro e gasto público afetam o setor
Questionado sobre o impacto do crédito caro e mais restrito nas vendas de fim de ano, dr. Ivo foi taxativo: "Afeta. Direta e indiretamente". Ele explicou que os juros elevados dificultam o investimento das empresas, o que afeta a geração de emprego e renda no médio prazo.
O presidente da Federação defendeu a política do Banco Central pela estabilidade do câmbio e do controle inflacionário, mas criticou a gestão fiscal do governo. "Quem não está fazendo a parte dele é que está gastando um pouco demais e está flexibilizando demais o arcabouço, é o governo". Para ele, a reforma administrativa – que é uma pauta prioritária da FecomercioSP – é crucial para a melhoria da qualidade do gasto público e deve anteceder a reforma tributária.
Presentes comestíveis
Com um orçamento médio estimado em R$ 500 para presentes, o consumidor brasileiro buscou alternativas. Dall’Acqua notou um hábito crescente: a inclusão de guloseimas e alimentos diferenciados na lista de presentes, impulsionando pequenos negócios e aproveitando a deflação no setor alimentício.
A conclusão do balanço aponta, portanto, para um Natal de movimento aquecido, porém com um consumidor mais consciente e seletivo, refletindo uma economia em processo de desaceleração e adaptação a novos tempos.