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Editorial

A importância de um Banco Central independente

Especialista comenta sobre os impactos da independência dos BCs, avaliando essa perspectiva com base na inflação e juros

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A importância de um Banco Central independente
Um Banco Central independente significa estabilidade e certeza de uma autoridade monetária comprometida com a moeda (Arte: TUTU)

Por André Sacconato*

É claro que juros altos não são a situação ideal para um país: a população se endivida, diminui-se o crédito a empresas e consumidores e a economia desacelera. Assim, ninguém aumenta os juros por prazer ou interesse. É necessário. Tal como remédio, amargo, causa efeitos colaterais e sobrecarrega o organismo, mas, sem ele, o corpo adoece ainda mais.

O que significa o Banco Central (Bacen) fixar os juros? Significa ajustar a quantidade de moeda. Por quê? Simples: a inflação é o preço da moeda. Tal como um escambo. Por exemplo, trocar cadernos por canetas. Muita caneta e pouco caderno fazem o valor do último subir.

Assim, a depender da situação, um caderno valeria três canetas (ou quatro, ou cinco etc.). O mesmo ocorre com o dinheiro: muita moeda na economia torna o caderno mais caro, ou seja, inflaciona o preço dos produtos.

Diante disso, o Bacen sobe os juros, com o objetivo de estimular as pessoas a trocar dinheiro por títulos [em tempo, a entidade não faz negócios com o povo, mas com instituições financeiras].

A Selic é a taxa básica de empréstimos com garantias de títulos do Tesouro, de menor risco. Desta forma, com menos dinheiro circulando, é possível combater a perda de valor da moeda.

Entretanto, para isso, o Bacen precisa agir com muita técnica e se manter livre de pressões políticas. Caso se comprometa politicamente (ao baixar os juros), sem qualquer fundamento econômico, a inflação crescerá, afetando principalmente os mais pobres, mais vulneráveis ao contexto.

Deste modo, acabam comprando menos, perdendo empregos e se distanciando de produtos financeiros mais rentáveis. Portanto, ao contrário do que se fala, uma autoridade monetária não independente é o pior cenário para a parcela da população de menor renda, pois impede o desenvolvimento.

E o problema não para por aí: se o Bacen não controla a inflação, os juros de longo prazo automaticamente sobem, afetando inclusive o financiamento de empresas no longo prazo. Este processo é conhecido como “desancoragem de expectativas”.

Assim, ao obter empréstimos no banco, o empresário, além de ter que conviver com um consumidor com menos poder de compra, deve pagar juro maior. Além disso, ao subsidiar juros em instituições públicas, o governo prejudica os balanços e, no fim, se vê de mãos atadas, tendo que lançar mão de recursos públicos.

Todo mundo deseja juros menores, mas o que fazer para que isso aconteça? Primeiro, deve-se gerar estabilidade para os investimentos – e só baixar os juros quando as condições macroeconômicas permitirem. Segundo, é preciso de um ajuste fiscal crível que impeça que o governo saia “espalhando” dinheiro, bem como obrigue o Bacen a manter os juros altos. Isso dá mais espaço para o setor privado trabalhar e poupa os recursos da economia de serem “enxugados”. Não existe solução mágica.

Portanto, um Banco Central independente significa estabilidade e certeza de uma autoridade monetária comprometida com o maior ativo de uma nação: a moeda. É possível, ainda, com a colaboração do fiscal, gerar um mix de políticas que levem ao crescimento e à redução de pobreza.

*André Sacconato é economista, consultor da FecomercioSP e integrante do CEEP.
 Artigo originalmente publicado no Portal Contábeis em 17 de fevereiro de 2023.

Saiba mais sobre o Conselho de Economia Empresarial e Política (CEEP).

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